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Micotoxicose: A doença silenciosa

Publicado: 8 de abril de 2013
Por: Departamento Técnico da Amlan.
Entendendo a micotoxicose
Controle de micotoxinas em produção animal
A contaminação por micotoxina pode ocorrer, a qualquer momento e em vários níveis, em praticamente qualquer alimento para animais. Os níveis variam de alto a baixo com ampla variação dependendo das toxinas presentes. Se houver uma micotoxina presente no alimento, é provável que outras micotoxinas também estejam.
Micotoxinas são substâncias tóxicas naturalmente produzidas por diversos fungos, comumente encontrados em alimentos para animais. Apesar dos fungos serem organismos vivos que podem ser eliminados por determinados tratamentos (calor, ácido, etc.), as micotoxinas são substâncias químicas tóxicas estáveis que não são destruídas pelo processamento normal dos alimentos ou armazenamento.
As micotoxinas sempre estiveram presentes em alimentos para animais, mas seus efeitos prejudiciais são mais conhecidos hoje em dia por diversas razões. Novas tecnologias de testes de grãos permitem identificar toxinas em níveis extremamente baixos e que anteriormente não eram detectáveis. Com as técnicas usadas atualmente algumas micotoxinas podem ser detectadas em partes por milhão (ppm) ou até partes por bilhão (ppb). Para ilustrar uma parte por milhão é equivalente a um grão de milho em, 355 quilos enquanto uma parte por bilhão é equivalente a um segundo em 31 anos.
Práticas agronômicas como plantio direto, silos dos tipos bolsa e cisterna também aumentam ou concentram esporos de fungos com o tempo, aumentando, assim, os níveis de micotoxinas. 
Mais importante, conforme pressionamos os animais por desempenhos ainda melhores, os impactos negativos de diferentes fatores ambientais e agentes causadores de doenças, incluindo as micotoxinas, causam ainda mais doenças clínicas e geram uma grande redução nos lucros.
Com quais níveis de micotoxinas devo me preocupar?
Nos Estados Unidos e na maioria dos países, níveis específicos de algumas toxinas são proibidos em alimentos ou ao menos são fortemente desaconselhados para certas espécies e idades ou grupos de produção. O Conselho de Ciências e Tecnologias Agrícolas identificou o potencial para até 30.000 micotoxinas únicas, para a maioria das quais não possuímos testes disponíveis para avaliar nos dias de hoje. As micotoxinas mais avaliadas e amplamente estudadas são aflatoxina, zearalenona, vomitoxina (DON), fumonisina, ocratoxina, T-2, ergonovina e ácido ciclopiazônico. As pesquisas mais publicadas são relacionadas às micotoxinas que são avaliadas em estudos controlados usando níveis relativamente altos de toxinas purificadas.
Uma descoberta consistente sobre casos de micotoxicose é que a quantidade de toxina necessária para causar doenças clínicas é significativamente menor quando o alimento usado foi contaminado naturalmente, ao contrário de quando adiciona-se toxinas purificadas a uma dieta livre de micotoxinas. As razões dadas para a diferença de toxicidade entre alimentos naturalmente contaminados e toxinas purificadas são diversas. Sob condições naturais, múltiplas toxinas são frequentemente produzidas e existem interações sinérgicas comprovadas que levam ao aumento da toxicidade.A exposição a Micotoxinas em produções animais não são bem controladas. É comum que múltiplas micotoxinas estejam presentes na ração, e isso é a base provável para efeitos clínicos, mesmo com baixos níveis de toxinas.
A carga total de toxinas (CTT) na ração é um contribuinte importante para os efeitos clínicos observados nos animais. Para nossa discussão, CTT é definida como a combinação de todas as micotoxinas, identificadas e não identificadas, da ração que o animal está consumindo. Isso inclui todos os concentrados, volumosos e premixes que constituem a ração diária. As implicações para intervenção são significativas, uma vez que é difícil a medição da CTT em um determinando momento. Desta forma, é importante reconhecer que testes para uma ou algumas micotoxinas são melhor utilizados como um indicador de que há toxinas presentes e que efeitos clínicos são possíveis de acontecer. Além disso, efeitos indiretos de micotoxinas, como imunossupressão, podem levar a surtos de doenças associados a bactérias (E. coli, salmonela, etc.) e vírus (IA, BVD, PRRS, etc.).
Efeitos de múltiplas micotoxinas em animais
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 1
 
 
Para que uma doença ocorra são necessários três fatores: o animal, o agente causador da doença e o ambiente.
O fato de toxinas estarem presentes não significa que um determinado animal será afetado clinicamente.
Assim como em outras doenças, problemas clínicos são causados pela interação entre o animal, seu ambiente e o agente infeccioso ou toxina. Por exemplo, um animal irá tolerar mais a exposição à toxina quando em um ambiente com baixo nível de estresse, limpo e confortável, do que quando em um ambiente frio, úmido ou lamacento, sob forte estresse de produção.
FIGURA 1
Quantidade necessária de toxinas para causar doença clínica em animais em diferentes ambientes e situações de estresse de produção
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 2
 
O efeito na saúde causado por diferentes toxinas ou, mais importante, pela combinação de toxinas é altamente variável dentre as espécies. Tais efeitos geralmente incluem redução na produção de leite, carne e ovos, redução da ingestão de alimentos, imunossupressão (o que pode levar a outras doenças), infertilidade e danos no fígado. O termo “efeito clínico” é usado para descrever esses e outros sintomas geralmente identificados e sinais de animais doentes ou de doenças.
É importante lembrar que um grupo (rebanho ou granja) de animais é constituído de indivíduos com habilidades próprias de resistência a doenças. Como resultado, alguns animais demonstram sintomas clínicos enquanto outros não, mesmo quando todos são expostos ao mesmo agente causador da doença ou toxina. 
O número de animais afetados clinicamente no rebanho varia com a quantidade total de toxina a qual são expostos. Conforme o aumento da carga total de toxinas, o número de animais com sinais clínicos também aumenta, ainda sem que a relação seja diretamente de um para um. Ou seja, se a exposição exceder um certo nível total de toxinas, o número de animais afetados aumentará dramaticamente (Figura 2).
FIGURA 2
Porcentagem de animais em um rebanho apresentando doença clínica em diferentes níveis de exposição total às toxinas, sob situações de estresse de produção diferentes
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 3
 
O impacto no desempenho geral é mínimo ou aceitável quando o animal é exposto a níveis baixos de micotoxinas, mas a exposição além de certos níveis de micotoxinas causa impactos negativos significantes no desempenho animal. Chamamos isso de ponto de intervenção de controle.
O ponto de intervenção de manejo (PIM) é o ponto em que o nível de doença clínica do rebanho é o suficiente para causar efeitos negativos em termos de saúde e/ou produtividade, fazendo com que os lucros operacionais gerais sejam reduzidos acentuadamente. É altamente variável dentre os rebanhos e ao longo do tempo, e depende da capacidade do animal em resistir ou tolerar a doença e a quantidade de exposição. O ambiente também está relacionado com a diminuição ou o aumento da resistência animal ou do surto.
A figura 3 fornece uma série de diferentes cenários hipotéticos onde a carga total de toxinas é constituída de um a quatro tipos de toxinas diferentes. Não é necessário saber quais são as toxinas, apenas que elas estão presentes em quantidades e combinações diferentes.
FIGURA 3
Toxicose Clínica
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 4
 
Para esclarecer melhor, o PIM foi estabelecido em um nível constante para todos os cenários. Os cenários 1 e 4 representam níveis de contaminação por micotoxinas abaixo do, PIM passando, assim, despercebido no rebanho. Por outro lado, os cenários 2, 3 e 5 estão acima do, PIM causando problemas consideráveis em uma alta porcentagem dos animais. Nesses três cenários, a intervenção de controle é necessária para prevenir perdas significantes na produção. Note que os cenários 2 e 3 são causados por uma mistura de micotoxinas, enquanto o cenário 5 é causado por uma toxina principal.
O objetivo é reduzir o nível total de toxinas abaixo do PIM. Assim, não se faz necessária a eliminação total das toxinas, uma vez que a redução das mesmas a baixos níveis eliminará os efeitos clínicos.
FIGURA 4
Controle da micotoxicose clínica
Tanto a habilidade dos animais em tolerar o total de micotoxinas quanto a quantidade total de micotoxinas no alimento variam com o tempo.
 
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 5
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 6
 
Como estar prevenido para enfrentar problemas com micotoxinas no futuro?
Uma parte essencial de um plano adequado de controle de micotoxinas é a seleção e/ou a colheita de ingredientes de qualidade, além de garantir que sua entrega e armazenamento sejam feitos de forma adequada. Isso é o básico para reduzir a probabilidade de contaminação por micotoxinas e o crescimento de fungos. Nos climas e estações em que os alimentos se tornam excessivamente úmidos, secos ou sofrem algum outro tipo de dano, testes com preços acessíveis e programas de seleção podem fornecer sinais de micotoxinas com bom custo-benefício. Nesses casos, incluir produtos destinados a diminuir a carga total de toxinas nas rações pode ajudar a manter o desempenho animal antes que problemas sérios possam ocorrer, e também proteger seu investimento em outros produtos nutricionais e medicamentos como vacinas e antibióticos.
A doença silenciosa
Estudos animais realizados em aves, suínos e gado leiteiro têm, constantemente, encontrado redução na produção de carne, leite, ovos e crias quando micotoxinas estão presentes nos alimentos.
Os efeitos tóxicos das micotoxinas em tecidos como os do fígado, rins e órgãos reprodutores, têm comprovado a supressão do sistema imunológico e o aumento da incidência e da gravidade de doenças causadas por vírus, bactérias e parasitas. A imunossupressão causada por micotoxinas também prejudica a efetividade da resposta a vacinas e outros programas de sanidade animal.
Achados clínicos: aflatoxicose
As aflatoxinas são absorvidas no trato gastrointestinal, metabolizadas pelas células hepáticas e então distribuídas pelo organismo. Elas danificam o fígado e inibem a síntese de proteínas reduzindo o peso das aves e diminuindo a produção de ovos em até cinco por cento. A produção de sais biliares no fígado também é prejudicada, o que reduz a absorção de gordura, vitaminas lipossolúveis e caroteno, resultando na síndrome de má absorção das aves. A aflatoxicose diminui as atividades de várias enzimas importantes para a digestão de amido, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos, levando à redução do ganho de peso. As aflatoxinas também são conhecidas por serem carcinogênicas.
O sistema imunológico é um alvo importante das aflatoxinas e, por isso, uma grande preocupação para produtores de animais de todo o mundo. Estudos extensivos sugerem que as aflatoxinas aumentam a suscetibilidade de aves à infecção por salmonela. O consumo de aflatoxina tem mostrado aumentar a sensibilidade a infecções virais, bacterianas, fúngicas e parasitárias, que levam a um impacto negativo na produtividade animal.
Efeitos clínicos em aves 


Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 7A aflatoxina é conhecida por causar danos estruturais e funcionais ao coração, rins e ao sistema reticuloendotelial. Seu efeito imunossupressor drástico é uma grande preocupação para o setor avícola devido às perdas diretas e indiretas associadas ao aumento da doença clínica e subclínica.
• Diminuição da absorção de amido, proteínas e gordura
• Hematomas na carne
• Depressão na síntese de proteínas hepáticas
• Baixa pigmentação da pele
• Diminuição da produção de ovos
• Baixa conversão alimentar
• Imunossupressão
• Supressão do crescimento
Achados clínicos: micotoxicose por zearalenona
A zearalenona é uma micotoxina estrogênica não esteroidal produzida por diferentes espécies do fungo fusarium, tipicamente encontrado em milho, trigo, arroz e cevada. Embora a zearalenona tenha sido identificada como causa de vários surtos de micotoxicose em animais de fazenda, os suínos são os que apresentam maior sensibilidade. 
Em suínos, a zearalenona afeta primeiramente leitoas pré-púberes, causando hiperemia e aumento da vulva. Há hipertrofia das glândulas mamárias e do útero, com ocasional prolapso do mesmo. Fêmeas multíparas alimentadas com alta concentração de zearalenona (50 a 100 ppm) apresentaram diminuição de fertilidade, redução no número da ninhada, crias menores e reabsorção fetal. Estro constante e pseudogestação podem ser observados. 
A zearalenona causa problemas reprodutivos em fêmeas sexualmente maduras, inibindo a secreção e liberação do hormônio folículo estimulante (FSH).
Metabolismo da zearalenona
A zearalenona é rapidamente absorvida após a ingestão e é metabolizada pelo fígado, mucosa intestinal e microflora dos suínos intestinos dos porcos, em metabólitos tóxicos.
A zearalenona e seus metabólitos foram encontrados no plasma de porcos suínos menos de 30 minutos após o consumo da mesma. A ampla circulação de zearalenona e de seus metabólitos pela circulação entero-hepática aumenta a meia vida biológica destes compostos, estendendo significantemente a exposição tóxica.
Efeitos clínicos em suínos
• Diminuição da libido em machos
• Infertilidade
• Diminuição do tamanho da ninhada e do peso de nascimento
• Útero aumentado, inchado e deformado
• Ovários artofiados
• Ovários císticos
• Necrose ou hiperemia da cauda
• Edema e hiperemia da vulva
• Prolapso vaginal e retal
 
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 8
 
Micotoxicose em vacas leiteiras
Micotoxicose: A doença silenciosa - Image 9O mundo da produção moderna de leite traz novos desafios para produtores que precisam controlar uma grande variedade de elementos em cada um dos estágios do processo. A nutrição constitui um dos mais importantes elos da cadeia de produção. Portanto é crucial estar consciente da presença de substâncias indesejáveis, como as micotoxinas, na dieta regular do rebanho. Estas micotoxinas interferem em toda a cadeia de produção. Alguns dos sintomas observados 
incluem distúrbios digestivos, redução do consumo de alimentos, redução da produção de leite, distúrbios na reprodução e uma mistura de sinais de doenças infecciosas.
Aflatoxina B1
Desde a descoberta de que vacas leiteiras que consomem rações contaminadas com aflatoxina B1 excretam aflatoxina M1 em seu leite, foram ordenadas restrições a grãos com mais de 20 ppb (US Food and Drug Administration) de aflatoxina. Estudos demonstram que vacas com alta produção de leite tinham uma maior excreção de aflatoxina M1, como resultado a uma maior permeabilidade das membranas celulares dos alvéolos.
Zearalenona 
A capacidade estrogênica dessa micotoxina é um dos principais problemas em fazendas de produção de leite. O consumo de zearalenona, produzida pelo fungo Fusarium, tem resultado em infertilidade, redução na produção de leite e hiperestrogenismo em vacas.
Inchaço e hiperemia da genitália externa foram observados em vacas da raça Holandês, quando alimentadas com altos níveis de zearalenona. Em outro estudo úberes aumentados e secreção de leite com teor de gordura diminuído foram observados em 2 novilhas pré-púberes da raça Holandês (8 e 12 meses de idade), que consumiram milho com alta contagem de fungos e presença de zearalenona. Reduções na taxa de prenhez (62% contra 87% nas vacas de controle) foram observadas em novilhas ciclando da raça Holandês, que foram alimentadas com altas doses de zearalenona purificada durante três ciclos estrais.


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