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Vacinas Vacinações Micoplasmas

Vacinas e vacinações para Micoplasmas

Publicado: 8 de agosto de 2006
Por: MÉD. VET., M. SC., PH.D.LAURIMAR FIORENTIN, EMBRAPA SUÍNOS E AVES, CX. P. 21, 89700-000 CONCÓRDIA, SC.
Micoplasmas causam doenças geralmente crônicas endêmicas. A infecção não é eliminada sem uma ação específica de erradicação e o agente é transmitido verticalmente através de ovos contaminados. Uma vez introduzido na granja, um micoplasma patogênico é de difícil eliminação, requerendo na maioria das vezes a despopulação do ambiente para o sucesso da erradicação do agente. Mesmo que a erradicação seja obtida, o fato da avicultura ser praticada em áreas geográficas com grande concentração de granjas, quer em torno de grandes centros urbanos no caso da produção de ovos, quer em regiões minifundiárias na produção de frangos, encerra um fator de risco elevado para a reinfecção do plantel. A grande concentração de aves em uma mesma região dificulta sobremaneira a criação de aves livres de micoplasmas e ainda mais dificulta sua erradicação quando da ocorrência em uma granja localizada em região endêmica. Especialmente a produção de ovos de consumo tem sido pré-disponível à infecção por micoplasmas devido às possibilidades de transmissão horizontal entre granjas com padrões reduzidos de bioseguridade.

Os principais micoplasmas que afetam galinhas de criação tecnificada são o Mycoplasma gallisepticum (MG) e o Mycoplasma synoviae (MS). Ambos causam aerossaculite, porém o MS ainda pode causar infecção das bainhas sinoviais. Quadros patológicos menos comuns podem ainda ser verificados, como a infecção da córnea ou meningite causada pelo MG. O MG tem em geral maior impacto sobre a produção, assim como é maus fácil de ser diagnosticado devido à imunogenicidade maior do agente que facilita a detecção precoce por testes sororológicos.

O micoplasmas têm impacto impacto negativo na produção. São bem conhecidas a redução da média de ovos por ave alojada e aumentos na condenação de frangos, no caso de MG. Para o MS, a queda na produtividade pode não ser tão evidente, mas lotes livres tendem a produzirem melhor em algumas empresas, o que não permite a unanimidade de opiniões de que o MS pode ser tolerado no plantel. A situação é agravada pela estrutura piramidal praticada na avicultura, na qual os problemas que afetam plantéis básicos multiplicadores se potencializam nos próximos níveis da produção quando transmitidos verticalmente. No caso dos micoplasmas, essa potencialização se dá não somente pela produção de grande número de aves infectadas, com também pelo sinergismo com outros patógenos (Escherichia coli; Vírus da Bronquite Infecciosa) freqüentes em granjas de menor biosseguridade, como são aquelas da produção final de ovos e carne.

O ideal é criar aves livres de ambos MG e MS. Além de evitar as perdas diretas com a doença, a criação de aves livres de micoplasmas também evita gastos com medicamentos ou vacinas e ainda zela pelo conceito do estabelecimento. Isso é logrado com a obtenção de aves oriundas de plantéis livres destes organismos para se evitar a transmissão vertical, as quais são então criadas em granjas com boa biosseguridade para evitar então a infecção por via horizontal. O ideal, porém, nem sempre é praticável.

A manutenção de plantéis livres de MG e MS durante todo o ciclo produtivo não é difícil de ser obtido em granjas elite para a produção de material genético básico. Granjas avozeiras e matrizeiras são em geral construídas observando-se rigorosos padrões de isolamento e as aves criadas em núcleos de biosseguridade máxima. Quando a progênie é transferida para áreas de exploração comercial intensa, no entanto, muito freqüentemente se positivam para micoplasmas em virtude de relaxamento na biosseguridade da granja aliada à superpopulação da região produtora. Para muitos plantéis do extrato final de produção, sobretudo de ovos, a vacinação é a forma preferida para se controlar micoplasmas. Esporadicamente, matrizes também são
vacinadas como forma de contornar momentaneamente o problema.

Micoplasmas causam doenças através de mecanismos diferentes daqueles observados com a maioria das bactérias. Toxinas não são em geral importantes na virulência dos micoplasmas, os quais basicamente possuem adesinas que lhes permitem fixar-se a membranas celulares. Além disso, possuem antígenos variáveis na superfície para evadirem-se do sistema imunológico do hospedeiro. Micoplasmas colonizam os tecidos do hospedeiro e se multiplicam em novos clones ligeiramente diferentes em seus antígenos de superfície, fazendo com que a resposta imunológica seja sempre parcial. Evitam assim sua eliminação total pelo hospedeiro e logram sua permanência por longos períodos nos tecidos causando infecções crônicas.

As lesões observadas nos tecidos afetados resultam mais da agressão que o hospedeiro faz em si mesmo, como resultado da secreção das células inflamatórias. A vacinação com um toxóide, por exemplo, é impossível de se imaginar no controle dos micoplasmas, mesmo sendo de grande sucesso na prevenção de quadros causados por outras bactérias.

Micoplasmas parasitam preferencialmente tecidos epiteliais. Sua perfeita adesão às células epiteliais também auxilia na evasão do sistema imunológico, uma vez que sua exposição às células reconhecedoras de antígenos e efetoras da resposta imunitária é menor que aquela verificada para organismos de circulação sistêmica. Os micoplasmas aviários MG e MS colonizam principalmente o epitélio das vias respiratórias, que para todos os efeitos é um ambiente externo ao hospedeiro. Anticorpos, portanto, tem sua eficiência reduzida quando se trata de uma infecção por micoplasma. Por ouro lado, a resposta celular localizada, ainda que dependente de anticorpos, é de extrema importância. A eficiência de uma vacina para um micoplasma aviário depende, portanto, de desencadear uma resposta ativa também no ambiente externo do hospedeiro.

A utilização da vacinação como forma de controle de micoplasmas tem sido largamente utilizada. A decisão em vacinar, entretanto, deve ser entendida como a definição de que a manutenção do lote livre de micoplasmas não seria possível. Gastos com a vacina e mão de obra e a impossibilidade de se detectar a infecção por testes sorológicos em lotes vacinados devem ser levados em conta. Também deve ser levado em conta que a vacinação não é permitida em lotes de controle permannte pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola, como avós e matrizes.

O objetivo fundamental de uma vacinação pode variar desde a meta de produzir ovos com níveis altos de anticorpos até a abordagem ecológica da substituição de cepas selvagens por cepas vacinais. A decisão entre evitar a doença ou eliminar o agente deve também ser preocupação de quem determina um programa de vacinação. Para micoplasmas, parte do sistema produtivo necessita evitar a doença (produção de ovos) enquanto a outra parte necessita eliminar as cepas selvagens e auxiliar na erradicação do agente (plantéis básicos). Se analisada a patogenia das micoplasmoses, como descrito acima com relação à evasão do sistema imunológico e com respeito à colonização de epitélios, é surpreendente que as vacinas para micoplasmas, especialmente para MG, tenham sido eficientes em ambas as situações.Ç

Na produção de ovos as vacinas para MG são utilizadas com sucesso. Nesse setor a manutenção de granjas de múltiplasidades e que alojam pintos ou frangas recriadas de diferentes origens, aliado à deficiente biosseguridade da própria granja, impossibilita a criação de aves livres de micoplasmas, forçando a vacinação. Por muitos anos a vacinação com a cepa F de MG tem sido utilizada em poedeiras, mesmo com sua virulência residual, porque o ganho na produção de ovos favorece a relação custo benefício para o produtor. Sua maior deficiência é ter certa virulência para perus e pintinhos, mas mesmo assim isso não é muito problemático porque regiões produtoras de ovos não são em geral regiões de criação de perus, e porque a recria de reposição pode ser feita em outra granja ou em núcleo isolado na mesma granja, reduzindo a possibilidade de infecção de pintinhos. Mesmo quando isso ocorre, a infecção ainda se dá por uma cepa vacinal, o que representa uma vantagem. É sempre mais vantajosa uma infecção por uma amostra vacinal com resíduo de virulência do que a infecção por uma amostra de campo francamente virulenta.

A cepa F porém, está sofrendo redução em seu uso. Essa observação se explica mais pelo surgimento de vacinas mais vantajosas que pelas deficiências da cepa F. Recentemente surgiram no mercado as cepas ts-11 e 6/85 de MG, com claras vantagens sobre a cepa F. Essas não tem a virulência residual que pode causar sinergismo com infecções virais ou mesmo com a vacinação com alguns vírus vivos e oferecem maior segurança quanto à possíveis doses elevadas oriunda de acidentes na vacinação. Essas vacinas ainda tem baixa transmissão horizontal e não causam resposta sorológica intensa, permitindo uma avaliação da ocorrência paralela da infecção por cepas de campo através de sorologia. O surgimento das vacinas com as cepas 6/85 e ts-11 de MG, representou a grande vantagem de se ter disponíveis imunizações que conduzem à proteção do lote porém sem causarem intensa resposta sorológica. Ambas vacinas têm sido demostrado serem causadoras de fraca resposta de anticorpos nas aves vacinadas, consequentemente resultando em fraca reação tanto em soroaglutinação rápida (SAR) como em ELISA. A resposta sorológica à vacinação com a cepa 6/85 é praticamente negligenciável, permitindo detectar a possibilidade da infeção concomitante do lote por cepas de campo através de testes sorológicos. A colonização do nicho disponível no epitélio traqueal feita pela amostra vacinal é mais eficiente para evitar a infecção por amostras selvagens do que a ocorrência de altos títulos de anticorpos.

A vantagem das vacinas vivas em relação às bacterinas reside em sua ação sobre a população de cepas selvagens. A interação entre o hospedeiro, o patógeno e a cepa vacinal resulta na seleção da cepa vacinal como majoritária na granja. As aves são vacinadas antes de receberem grande pressão de infecção pela cepa selvagem, o que resulta em colonização dos epitélios pela cepa vacinal. A tomada dos sítios de ligação e colonização feita pela amostra vacinal associada a ação do sistema imunológico do hospedeiro tende a manter a ave não infectada pela amostra de campo, em um princípio muito semelhante àquele teorizado para o sucesso dos probióticos. Após repetidas vacinações a granja toda pode resultar em um ambiente livre das cepas de campo. Tão logo a cepa F de MG começou a ser utilizada, demonstrou-se que havia substituição das amostras de campo pela amostra vacinal nos lotes infectados, indicando que o controle populacional de micoplasmas no ambiente era possível de ser feito através da vacinação dos lotes. Recentemente foi demonstrado, experimentalmente, que as vacinas 6/85 e ts-11 não causavam a substituição da amostra R (francamente virulenta) em galinhas, porém em experimentos a campo foi demonstrado que a vacinação com a cepa ts-11 eliminou a cepa F do plantel, acenando para a possibilidade da erradicação de micoplasmas através do uso escalonado de vacinas. Estas observações indicam que, uma vez contaminada por uma amostra de campo, a granja pode ser restabelecida ao estado de livre de MG pela contínua introdução de aves vacinadas. A granja deve receber várias gerações de aves vacinadas com a cepa F para eliminação das amostras silvestres altamente virulentas.

Uma vez eliminadas as cepas de campo, a própria cepa F poderá ser eliminada pelo uso das vacinas com as cepas ts-11 ou 6/85, e quando da certificação de que ambas, as cepas de campo e a cepa F, forem completamente eliminadas pode-se tentar a suspensão da vacinação e o conseqüente restabelecimento da granja como livre de micoplasmas. As confirmações de que as amostras virulentas foram eliminadas podem ser feitas por sorologia e tentativas de isolamento, e a comparação das amostras isoladas feita com base em técnicas de genética molecular. Este procedimento, no entanto, necessita ser testado em larga escala, inclusive em matrizes, para sua aplicação com maior segurança. A decisão de suspender a vacinação é, no entanto, de alto risco em granjas de idades múltiplas ou com outro fator que cause baixa biosseguridade. A manutenção da vacinação, por outro lado, garante a permanência de cepas vacinais na granja impedindo a ocorrência de infecções com amostras de campo.

As bacterinas possuem também suas vantagens. A utilização de antibioticoterapia não interfere com as bacterinas, o que pode ser um problemas com as cepas vivas se ambos a vacinação e a terapia tiverem de ser feitas simultaneamente. Quando necessário suspender a vacinação as bacterinas são simplesmente descontinuadas com a interrupção das novas vacinações, enquanto as cepas vivas permanecem na granja, podendo interferir no diagnóstico. Essas situações são especialmente importantes quando uma granja está contaminada com ambos MG e MS, quando o tratamento para MS pode interferir na vacinação para MG e as tentativas de isolamento de MS podem resultar repetidamente em isolamento da cepa vacinal de MG. O isolamento de MG é sempre mais fácil, uma vez que este é menos exigente em condições de crescimento em laboratório .

Outro recente avanço para o controle das micoplasmoses, foi o aparecimento da vacina viva, mutante termo-sensitiva atenuada para MS (cepa MS-H). A sua utilização em larga escala, entretanto, estará na dependência de melhor esclarecimento quanto ao real impacto de diferentes cepas de MS em patologias que afetam as aves de exploração comercial. Essa vacina ainda não está comercialmente disponível no Brasil, mas a exemplo de outros países deverá ser aprovada para uso. A despeito da carência de estatísticas específicas, acredita-se que pelo menos 50% do plantel de matrizes do Brasil esteja infectado por MS. A demonstração de que a vacinação com MS-H tem efeito benéfico sobre patologias dos aparelho respiratórios e locomotor, e/ou que auxilie em programas de erradicação de MS, especificamente com relação às cepas que ocorrem no Brasil, seria de enorme importância.

O impacto econômico da infecção por MS é difícil de estabelecer na prática. A literatura específica também não auxilia muito porque apresenta dados contraditórios. Um estudo com poedeiras nos Estados Unidos da América revelou fácilmente a redução da produção de ovos causada pela infecção por MG, porém não conseguiu identificar redução alguma nos plantéis nfectados por MS. Resultados semelhantes também foram obtidos em outro estudo recente. Outros autores, porém, sugerem uma redução de 10 ovos por galinha alojada quando infectadas por MS. A literatura também carece de comparação do impacto na produção causado por cepas de MS com virulências diferenciadas. No Brasil, a dificuldade em se identificar na produção as perdas causadas por MS, sobretudo em plantéis de matrizes, tem gerado o conceito de que este é um patógeno secundário.

As vacinas para micoplasmas não devem ser utilizadas em plantéis sujeitos ao controle oficial. Plantéis básicos são controlados pelos órgãos públicos de vigilância em vários países, para a certificação da ausência do patógeno. Tanto as cepas vivas como as bacterinas interferem com esse controle por causarem resultados positivos em sorologias (bacterinas) e isolamento de micoplasmas (cepas vivas), dos quais os plantéis dependem de repetições de testes com resultado negativos para serem certificados como livres de micoplasmas. No Brasil, o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), liderado pelo Ministerio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), exerce a função de credenciador de plantéis para a condição de livres de micoplasmas. A Instrução Normativa 26 do Mapa estabelece as normas a serem seguidas pelos plantéis de matrizes. Entre essas, destaca-se a proibição do uso de vacinas para micoplasmas.
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