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Bronquite infecciosa pneumovírus aviário

Qual é o papel da bronquite infecciosa e do pneumovírus aviário em problemas de fertilidade em machos?

Publicado: 7 de julho de 2009
Por: Laura Y. Villarreal B. MSc – PhD. Gerente Técnica Avicultura. Intervet Schering Plough Animal Health – Brasil
Durante os últimos anos, os problemas reprodutivos em aves de ciclo longo (machos e fêmeas), tem tido um aumento considerável se os compararmos com a casuística respiratória apresentada neste tipo de aves.  O objetivo principal do produtor é o de ter os índices de produção das suas aves altos, com ótima qualidade e gerando uma progênie saudável e que terá um excelente comportamento zootécnico no campo; no entanto, problemas de queda de fertilidade e alteração da qualidade do ovo e do pintinho estão sendo cada vez mais e mais freqüentes, quebrando o elo principal da criação das aves.

Neste sentido, apresentaremos algumas teorias e dados que sugerem a relação do vírus da bronquite infecciosa das galinhas (VBIG) e do pneumovírus aviário (aMPV) com os problemas descritos anteriormente.  É importante considerar que, embora estejamos apresentando a relação direta destes vírus com esta sintomatologia, os mesmos são apenas uma das causas deste tipo de patologias, não se podendo, portanto, descartar outras etiologias (sejam infecciosa ou não).

O vírus da Bronquite infecciosa (VBIG) é um vírus epiteliotrópico que causa doença aguda e, em alguns casos, severa nos tratos respiratório, renal, reprodutivo e entérico de galinhas (6, 8, 12). A replicação no oviduto resulta em declínio da produção e da qualidade dos ovos (13, 14, 21). Este VBIG (um coronavírus) causa, portanto, consideráveis perdas econômicas à indústria avícola.

Por sua vez, o pneumovírus aviário (Metapneumovírus aviário, aMPV) pertence à família Paramyxoviridae. Com base em padrões de neutralização utilizando anticorpos monoclonais e análise molecular, os pneumovírus são subdivididos em quatro subtipos diferentes (A, B, C e D) (3, 15, 17). Em poedeiras comerciais, a infecção por aMPV pode afetar a qualidade dos ovos (11) e causar uma ampla gama de anormalidades reprodutivas incluindo peritonite por ovos, queda de produção, ovos com alteração no formato da casca e regressão do ovário e do oviduto (15). As infecções por aMPV também são associadas com a síndrome da cabeça inchada em galinhas.

Em estudos anteriores em machos, demonstrou-se que vários fatores podem alterar a produção de esperma fértil, o que pode levar à presença de cálculos na região epididimária, mais especificamente nos ductos deferentes (21). Alguns autores demonstraram que galos com cálculos podem ter testículos com tamanho e peso menor e diminuição da produção diária de esperma (4). Embora o VBIG e o aMPV já tenham sido sugeridos como possíveis causas de formação de pedras de cálcio no epidídimo, uma associação definitiva ainda não foi estabelecida (Villarreal, et al 2007).

Um fato interessante é que a vacinação com vacina viva atenuada de bronquite infecciosa já foi associada com o desenvolvimento de pedras testiculares e, portanto, com problemas de redução da fertilidade (4). No entanto, Mahecha et al. (2002) demonstrou que não existe uma relação definitiva entre a vacinação com vacina viva de VBIG e a ocorrência de cálculos, uma vez que lotes que não receberam nenhum tipo de vacinação de BIG também apresentaram tal lesão.

É importante que lembremos que o papel do VBIG e o aMPV na patogenia reprodutiva da fêmea se deriva da replicação destes vírus no epitélio ciliado do trato reprodutivo, resultando em perda de cílios, degeneração e necrose das células epiteliais e glandulares (Pradhan et al, 1982;  Wilding et al, 1986).  Da mesma forma, o epitélio dos ductos eferentes dos testículos dos machos também consiste de células ciliadas e não ciliadas, sendo estas, portanto, bastante susceptíveis à replicação destes dois vírus.

A região epididimária dos galos consiste de uma rede testicular, ductos eferentes, ductos conectores e o ducto epididimário.  Uma das principais estruturas dos testículos são exatamente os ductos eferentes e a sua função primária inclui reabsorção de fluidos, transporte e concentração de esperma, fagocitose do esperma e secreção de proteínas (21).
Já é bem estabelecido que uma das anormalidades que podem levar à baixa de fertilidade em galos é a formação de pedras de cálcio nos ductos deferentes.  Uma vez que os cálculos são formados nos ductos deferentes na região epididimária, a produção e a viabilidade do esperma são seriamente comprometidas, uma vez que os ductos deferentes são responsáveis pela reabsorção de fluido dos testículos e qualquer dano desta função leva a acúmulo e refluxo de fluidos, atrofia testicular e infertilidade.

A associação entre infecção por IBV e aMPV em testículos de galos com lesões epididimárias microscópicas associadas com baixa fertilidade e problemas respiratórios em lotes de reprodutores com baixa performance reprodutiva é um fato conhecido. A relação entre a replicação do VBIG e a queda de fertilidade é explicada pela capacidade deste vírus em destruir os ductos eferentes, o epidídimo, os túbulos seminíferos e por ser uma das causas que levam ao aparecimento de cálculos epididimários (Figura 1) Boltz et al. (2004) e Villarreal et al (2007).

Como exposto anteriormente, o aMPV tem tropismo por células epiteliais ciliadas do trato reprodutivo das fêmeas, e é, portanto, bastante provável que este vírus tenha um papel principal na patogenia reprodutiva em machos.
Outras infecções (bactérias como Chlamydophila) e agentes tóxicos (aflatoxinas) não devem ser descartados, uma vez que estes também podem suprimir a espermatogênese, levando a anormalidades dos espermatozoides e atrofia dos testiculos e, além disso, tais eventos já foram também associados com calcificação, urolitíase e cálculos.

Falhas de manejo, incluindo estimulo de luz e alimentação, são também fatores diretamente responsáveis por alteração na multiplicação das células de Sertoli, as quais determinam o potencial de fertilidade dos machos, fatores este que devem também ser levados em conta.

Concluindo-se, o VBIG e o aMPV são altamente sugestivos de possuir um papel importante em complicações reprodutivas nos machos e devem ser considerados sempre como agentes etiológicos neste tipo de alterações. Avaliações dos programas vacinais utilizados, assim como manejo e outros possíveis agentes devem estar sob constante monitoramento na granja.

Qual é o papel da bronquite infecciosa e do pneumovírus aviário em problemas de fertilidade em machos? - Image 1
Figura 1: A e B.  Calculos testiculares na região dos ductos deferentes, evidenciados em machos apresentando queda acentuada da fertilidade.


Qual é o papel da bronquite infecciosa e do pneumovírus aviário em problemas de fertilidade em machos? - Image 2
Figura 2 – Achados histopatológicos nos testiculos de galos com diminuição da fertilidade em que foram detectados VBIG e aMPV. Figura A e B: Presença de resquícios de um cálculo (seta). Figuras C e D: infiltrado inflamatório (linfócitos) e debris celulares (setas). Figura E: ductos seminíferos com baixa concentração de espermatozóides viáveis, debris celulares e infiltrado inflamatório. Figura F: testículos normais com quantidade normal de espermatozóides. Coloração HE, aumento 100x. (Villarreal, et al. 2007)


REFERENCIAS
  1. Bäyon-Auboyer, M. H., C. Arnauld, D. Toquin and N. Eteradossi. Nucleotide sequences of the F, L and G protein genes of two non-A / non-B avian pneumoviruses (APV) reveal a novel APV subgroup. Journal of General Virology, 81: 2723-2733. 2000.
  2. Boltz, A. D., M. Nakai, J. M. Bahr. Avian infectious bronchitis virus: A possible cause of reduced fertility in the rooster. Avian Diseases, 48: 909-915. 2004.
  3. Cavanagh, D. and S. A. Naqi. 2003. Infectious Bronchitis, p. 101-119. In: Y.M., Saif; Barnes, H.J.; Glisson, J.R.; Fadly, A.M.; McDougald, L.R. and Swayne, D.E. (ed). Diseases of Poultry, 11th ed. Iowa State University Press, Ames.
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  8. Hess, M., M. B. Huggins, R. Mudzamiri and V. Heinez. Avian pneumovirus excretion in vaccinated and non-vaccinated specific pathogen free laying chickens. Avian Pathology, 33(1): 35-40. 2004.
  9. Ilio, K. Y and R.A. Hess. Structure and function of the ductuli efferentes: A review. Microscopy Research and Technique. 29: 432-467. 1994.
  10. Janssen, S. J., J. D. Kirby, R. A. Hess, M. Rhoads, D. Bunick, K. L. Bailey, C. M. Parsons, H. Wang, J. M. Bahr. Reduced fertility in roosters with epididymal calcium stones. Poultry Science, 79: 568-574. 2000.
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Autores:
Laura Villarreal
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