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Água Manejo Sanitário Animal

A Importância da Água no Manejo Sanitário Animal

Publicado: 18 de agosto de 2010
Por: Verônica Schmidt, Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS-, RS.
Introdução

Do total da superfície da Terra, a água ocupa ¾; entretanto, os oceanos constituem cerca de 97,5% de toda a água do planeta. Dos 2,5% restantes, aproximadamente 1,9% estão localizados nas calotas polares e nas geleiras, enquanto apenas 0,6% é encontrado na forma de água subterrânea, em lagos, rios e também na atmosfera, como vapor d'água (CETESB, 2010). Embora não se tenha uma idéia clara sobre o volume de água poluída e/ou contaminada, sabe-se que 80% das doenças que acometem humanos em países em desenvolvimento são de veiculação hídrica. Na produção animal, a qualidade da água pode interferir negativamente no sistema produtivo em caso de estar carreando substâncias químicas indesejáveis e microrganismos patogênicos (Lacaz Ruiz, 1992). Como a água é um elemento imprescindível à vida animal, é necessário que se adotem medidas para garantir, tanto quanto possível, suas características, a fim de que seja própria ao consumo. Deve-se levar em conta, também, que ao se eleger um tipo de exploração pecuária, além de serem estudadas as possibilidades de destinação adequada de águas residuárias e excretas, deverá ser estabelecido também se o abastecimento de água é suficiente em quantidade e qualidade (Souza et al., 1983).

Diluente universal

A água é um solvente ambiental dos dejetos e efluentes humanos, animais, industriais e ambientais. O seu papel no transporte de microrganismos é conhecido cientificamente desde 1854, quando John Snow provou que a água “estragada” em um dos pontos de fornecimento de água para a cidade de Londres transmitiu a cólera pela cidade (Lacaz Riz, 1992).

Fontes de abastecimento hídrico

A utilizada na produção animal provém de várias fontes: lagos, lagoas, rios, cursos de água, reservatórios naturais e artificiais, poços, chuva, etc. (Lacaz Ruiz, 1992). O ciclo da água, também denominado ciclo hidrológico, é responsável pela renovação da água no planeta. O ciclo da água inicia-se com a energia solar, incidente no planeta Terra, que é responsável pela evapotranspiração das águas dos rios, reservatórios e mares, bem como pela transpiração das plantas. O vapor d'água forma as nuvens, cuja movimentação sofre influência do movimento de rotação da Terra e das correntes atmosféricas. A condensação do vapor d'água forma as chuvas. Quando a água das chuvas atinge a terra, ocorrem dois fenômenos: um deles consiste no seu escoamento superficial em direção dos canais de menor declividade, alimentando diretamente os rios e o outro, a infiltração no solo, alimentando os lençóis subterrâneos. A água dos rios tem como destino final os mares e, assim, fechando o ciclo das águas (Cetesb, 2010). A movimentação da água na natureza é mostrada na figura a seguir.
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Figura 1. Ciclo hidrológico.
Fonte: CETESB (2010)
Doenças de veiculação hídrica, de interesse zootécnico-sanitário

Doenças de veiculação hídrica são descritas em todos os sistemas de produção animal interferindo, diretamente, na produtividade destes. A ingestão, por bovinos e aves, de água contaminada por micobactérias atípicas pode resultar em reação falso-positiva no diagnóstico da infecção por Mycobacterium. Já, a infecção com salmonelas através da água de dessedentação de bovinos pode resultar em diarréia e até abortamento (Lacaz Ruiz, 1992).

Água na produção animal
Usos da água


Os usos da água em instalações zootécnicas são vários. A dessedentação é um deles. São muitos os estímulos que levam os animais a consumir água: fome, sede, atividade metabólica, trabalho, gestação, lactação e fatores ambientais como umidade, temperatura, insolação, etc. Os métodos para se obter água são: ingestão de líquidos, alimentos e atividades metabólicas. Os animais conseguem eliminar o excesso de água de seu organismo através da urina, pele, respiração, saliva, fezes, secreções e leite (Lacaz Ruiz, 1992). Além da dessedentação, a água é utilizada para higienização de instalações e equipamentos, entre eles bebedouros, tanques de resfriamento do leite, equipamento de ordenha, entre outros.

Necessidades de água na produção animal

O consumo de água pelos animais domésticos pode variar. Os valores aproximados (por dia) são: eqüinos (35L para dessedentação), bovinos de leite (45L para dessedentação e 100L para dessedentação e limpeza das instalações), suíno (5 a 18L para dessedentação), ovinos e caprinos (8L para dessedentação), aves (15L para 100 galinhas e 25L para 100 perus) (Lacaz Ruiz, 1992).

Bovinos leiteiros

A água é necessária para o metabolismo animal. Uma vaca leiteira adulta consome de 4 a 45 kg de água por kg de matéria seca ingerida. Durante a gestação o consumo está em torno 57,5L/dia enquanto que na lactação pode chegar a 173L/dia (Lacaz Ruiz, 1992). Apesar de existir uma série de dados referentes ao consumo de água, não se pode esquecer que elevadas temperaturas aumentam as necessidades de água. Da mesma forma, fatores como raça, volume de produção, manejo, entre outros irão influir no consumo de água. Na tabela a seguir, são apresentados dados de consumo de água por bovinos leiteiros em sistema produtivo na Região Centro-Oeste do Brasil.
Tabela 1. Consumo de água pelo gado leiteiro nas condições do Brasil Central.
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Suínos

Na tabela 2 são apresentados valores de consumo diário de água para dessedentação de suínos em diferentes fases de produção.  

Tabela 2.
Consumos de água pelos suínos em diferentes fases
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Produção de Aves

A água representa de 55 a 75% do conteúdo corporal das galinhas e, aproximadamente, 65% do ovo (Lacaz Ruiz, 1992). Uma ave pode sobreviver até 30 dias sem alimento, no entanto, morre quando perde 20% da água presente em seu organismo (Vohra, citado por Togashi et al., 2008). O uso de água com características físicas adequadas, químicos e microbiológicos de qualidade é de fundamental importância. Uma vez que muitas aves têm acesso à mesma fonte de água, um problema de qualidade afetará um grande número de animais. A água desempenha um papel importante na transmissão de algumas bactérias, vírus e protozoários que estão entre as doenças mais comuns de aves. A água é um nutriente essencial para as aves, portanto, a preservação da qualidade é fundamental para o bom desempenho do rebanho (Amaral, 2004).

Na avicultura industrial, é fundamental o uso racional de água de boa qualidade. O uso de água de qualidade duvidosa pode prejudicar os índices zootécnicos (Tabler, apud Togashi et al. 2008), promover a disseminação de enfermidades que acarretam graves prejuízos econômicos (Gama, apud Togashi et al. 2008), além de carrear agentes patogênicos causadores de enfermidades de interesse na área de saúde pública (Barros et al., 2001). No caso das aves, a água destinada à dessedentação representa importante fator para o êxito da exploração avícola industrial, principalmente se considerarmos que, inversamente aos animais domésticos de maior porte, as aves precisam ter acesso a um suprimento contínuo, devido à ingestão de pequenas quantidades várias vezes ao dia (Sguizzardi apud Barros et al., 2001). As infecções de veiculação hídrica ocorrem quando agentes patogênicos têm acesso aos bebedouros através de excreções ou secreções de aves doentes ou portadoras, sendo essa água consumida pelas aves suscetíveis às enfermidades. Algumas das principais doenças participantes desse ciclo são: cólera aviária, doença infecciosa da bursa, coriza infecciosa, sinovite infececiosa, doença de NewCastle, salmoneloses, colibaciloses, coccidioses e ascaridioses (Souza et al. e Reddy et al. citados por Barros et al., 2001).
Tabela 3. Quantidade de água necessária para o alojamento de frangos de corte, em 2 ambientes distintos.
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Indicadores Microbiológicos de qualidade da água

O lançamento de resíduos de redes de esgoto domiciliares e da produção animal em coleções de superfície implica, necessariamente, no acompanhamento das condições microbiológicas do ambiente aquático. Este deve ser feito escolhendo-se alguns grupos bacterianos que indiquem qualitativa e quantitativamente as condições das águas que recebem efluentes. Entre as bactérias presentes no ambiente, o grupo dos coliformes tem sido extensivamente utilizado como um indicador da qualidade da água. Entre os coliformes, a contagem de Escherichia coli é considerada uma das melhores técnicas para estimar o grau de poluição fecal (Yáñez et al., 2006). Os coliformes têm sido úteis para medir a ocorrência e grau de poluição fecal em águas há mais de 70 anos. Durante este tempo, acumulou-se grande número de dados que permitem avaliação da sensibilidade e especificidade de tal indicador bacteriano da presença de poluição de origem fecal. Por outro lado, os coliformes fecais, um sub-grupo dos coliformes, dão uma correlação direta da poluição por fezes de animais de sangue quente. A principal característica bioquímica usada para identificar os coliformes fecais é a sua capacidade de fermentar a lactose, com produção de gás, na temperatura de 44,5°C (Geldreich citado por Souza et al., 1983).

Os coliformes, totais e fecais, são indicadores de poluição originária de dejetos fecais de animais de sangue quente. Geralmente, não se multiplicam e não se mantêm por muito tempo viáveis na água, tanto por razões de baixas concentrações de nutrientes como de temperaturas adversas. A presença de indicadores bacterianos de poluição fecal na água indica que patógenos intestinais podem estar presentes e representar um risco a saúde (Kabler e Feresu & Van Sickle, citados por Barros et al., 2001). A ocorrência de estreptococos fecais geralmente indica poluição fecal e, apesar de sua multiplicação em águas poluídas ser rara, eles podem persistir por longos períodos, além de serem capazes de sobreviver na água por mais tempo que os coliformes fecais (Slanetz & Bartley e Geldreich, citados por Barros et al., 2001). Os microrganismos mesófilos têm sido usados desde o início da bacteriologia para caracterizar a qualidade da água. É usado como indicador de patógenos oportunistas, além de uma possível interferência na detecção de coliformes. Quando aumentos são observados, há um sinal de quebra das barreiras sanitárias, indicando a urgência na tomada de medidas de controle, tais como cloração (Goshko et al., citado por Barros et al., 2001). A quantificação de Salmonella sp. no meio aquático pode servir como um indicador da qualidade da água destinada ao consumo humano ou animal (Venkateswaran & Hashimoto, 1988). Da mesma forma, Aeromonas sp. são autóctones de ambientes aquáticos e alguma espécies têm sido associadas a sintomas como septicemia e diarréias, em humanos (Di Bari et al., 2005) e poderão ser utilizadas no monitoramento de sistemas de captação de água. A Resolução do CONAMA nº 357/2005 dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. De acordo com esta resolução, as águas doces são classificadas em 5 classes, sendo as águas de classes 2 e 3 poderão ser destinadas à dessedentação animal, sendo que não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com freqüência bimestral. Para águas doces de classe 3, deverá ser observado a não verificação de efeito tóxico agudo a organismos, DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) 5 dias a 20°C até 10 mg/L O2; OD (Oxigênio Dissolvido), em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/L O2; turbidez até 100 UNT; cor verdadeira: até 75 mg Pt/L; pH: 6,0 a 9,0; e, para dessedentação de animais, os valores de densidade de cianobactérias não deverão exceder 50.000 cel/ml, ou 5mm3/L.

Estudos sobre qualidade da água

A seguir, serão apresentados os dados referenciados na literatura e os resultados de estudos do grupo de pesquisa “Manejo de dejetos na cadeia produtiva animal” sobre qualidade de água, em diferentes sistemas produtivos.

Cadeia produtiva de bovinos

Souza et al. (1983) quantificaram coliformes totais e fecais em amostras de água (44 de mananciais e 61 de bebedouros) e verificaram que as amostras de mananciais encontravam-se dentro dos parâmetros legais estabelecidos. Por outro lado, nas amostras de bebedouros, verificaram que as condições sanitárias revelaram-se não satisfatórias em 6 (5,7%) quanto a coliformes fecais, sendo 3 (2,8%) também com relação a coliformes totais. Souza et al. (1992) analisaram a água de 113 bebedouros utilizados para dessedentação animal em 60 propriedades rurais do Município de Botucatu, SP. Os autores determinaram presença de salmonelas em 15 (13,27%) amostras de água de bebedouros, correspondentes a 12 (20%) das propriedades; em 14 (12,39%) bebedouros foi determinada contagem de coliformes fecais acima de 4.000 NMP/100 mL. Dutra et al. (2001) descrevem sete surtos da intoxicação botulínica onde os dados clínico-patológicos, epidemiológicos e os achados laboratoriais indicaram a possível ingestão da toxina através da água contaminada. Souza et al. (2006) avaliaram a ocorrência e distribuição de esporos e toxinas de Clostridium botulinum tipos C e D em 300 cacimbas empregadas como bebedouro de bovinos em 130 propriedades rurais no Estado de Goiás. Em seis amostras (2%) foram detectadas toxinas botulínicas dos tipos C, D, ou classificadas como pertencentes ao complexo CD. Em 122 (93,85%) propriedades foram encontrados esporos ou toxinas de C. botulinum, enquanto somente 8 (6,15%) não apresentaram qualquer contaminação.

A profundidade média (nível de água) das cacimbas foi de 1,83m (mínimo de 0,5m e máximo de 4,0m) e 225 (75%) tinham idade média igual ou acima de 15 anos e 75 (25%) haviam sido construídas entre 1 e 14 anos. Os autores determinaram que quanto mais velhas e rasas as cacimbas, maior a freqüência do isolamento de esporos e toxinas. A contaminação de fontes hídricas com esporos ou toxinas de C. botulinum demonstra o risco potencial permanente e crescente para a ocorrência da intoxicação botulínica de origem hídrica nos bovinos. Rossi et al. (2000) verificaram a ocorrência de bactérias do gênero Aeromonas em amostras de água (abastecimento/residuária) obtidas em matadouro bovino. Bactérias do gênero Aeromonas foram isoladas em 10 (33,3%) amostras da água dos currais e em 10 (33,3%) amostras da água residuária da lavagem de carcaças. Os resultados evidenciaram que a água dos currais pode ser uma importante fonte de contaminação, principalmente para a pele e, através dela, Aeromonas sp. podem chegar à sala de matança.

Na produção de suínos

Considerando que a população microbiana mesófila em águas subterrâneas e superficiais em localidades onde há criação intensiva de suínos tem sido pouco estudada, analisou-se a diversidade de comunidades de mesófilos aeróbios de águas do rio Suruvi e seus afluentes e de poços profundos em propriedades produtoras de suínos localizadas no município de Concórdia/SC (Schneider et al., 2008). As cepas bacterianas foram classificadas de acordo com suas características microscópicas e por testes bioquímicos. Na análise morfológica, verificou-se predomínio de colônias com elevação convexa, bordos inteiros, puntiforme, pigmentação ausente e opaca, em ambos os grupos amostrados (águas subterrâneas e superficiais). Observou-se um percentual de 13,7% e 39,9% de cepas bacterianas com características do grupo de bactérias entéricas nas águas subterrâneas e superficiais, respectivamente. Verificou-se que os índices de eqüitabilidade de águas subterrâneas (0,2199 a 0,5423) foram significativamente maiores (P = 0,003) que aqueles observados em águas superficiais (0,1154 a 0,2273). Porém, o mesmo não foi observado em relação à diversidade (p>0,05). As águas superficiais apresentaram uma maior quantidade de bactérias mesófilas, inclusive o grupo das entéricas comparado com as águas de poços profundos, indicando maior suscetibilidade das coleções de superfície a alterações na microbiota.

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Figura 2. Índice de diversidade e equitabilidade em água superficial (rio) e subterrânea (poço) em região de produção suinícola de Santa Catarina. (Fonte: Schneider et al., 2008).
A utilização de antimicrobianos, de maneira excessiva e indiscriminada na produção animal intensiva, tem desencadeado o aumento no número de microrganismos resistentes, os quais podem ser transportados para ambientes aquáticos. Schneider et al. (2009) determinaram o perfil de resistência a antimicrobianos de isolados de E. coli obtidos de águas subterrâneas e superficiais em região de produção de suínos. Através do teste de suscetibilidade antimicrobiana foram analisadas 205 linhagens de E. coli. Observou-se, maior índice de resistência ao cefaclor tanto em águas superficiais (51,9%) quanto subterrâneas (62,9%), enquanto todas as amostras foram sensíveis à amicacina. O percentual de amostras multirresistentes foi de 25,96% e 26,73% em águas superficiais e subterrâneas, respectivamente; enquanto 19,23% e 13,86% foram sensíveis a todos os antimicrobianos testados. Determinou-se que o índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (MAR) foi de 0,164 para águas superficiais e 0,184 para subterrâneas. Não foram verificadas diferenças significativas no perfil de resistência a antimicrobianos em linhagens de E. coli isoladas em água superficiais e subterrâneas, mas o índice MAR calculado em pontos de água subterrânea podem oferecer risco potencial de transmissão de genes de resistência.

Segundo Krumperman (1983), amostras de E. coli com índice MAR superior a 0,2 poderiam agir como reservatórios de genes de resistência para outras bactérias, constituindo-se em risco inclusive à população humana. Estudou-se a qualidade de águas superficiais (rio Suruvi) e subterrâneas (poços rasos e profundos em propriedades suinícolas) na região do Oeste Catarinense. Entre os pontos amostrados, as água superficiais apresentaram um NMP mediano de coliformes inferior aos pontos de água superficial exceto o ponto 09, representado por um piezômetro que pode ter sido contaminado no momento da coleta.
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Figura 3. Número Mais Provável mediano (NMP Log10) de coliformes totais (CT) e fecais (CF) em amostras de água, segundo o ponto de coleta. (Pontos 1, 4, 7, 8, 9, 11, 14 e 15 = água subterrânea; Pontos 2, 3, 5, 6, 10, 12, 13, 16, 17, e 18 = água superficial.
Na produção de aves Vianna et al. (1975) determinaram o NMP de coliformes totais em amostras de diferentes tipos de fontes de água provenientes de granjas avícolas do Estado de Minas Gerais, obtendo amplitudes de variação de zero a 2.400 (poço raso), zero a 3.500 (poço artesiano), zero a 2.400 (nascente) e zero a > 2.400 (córrego, rio e lagoa). Barros et al. (2001), analisando amostras da água de dessedentação em bebedouros pendulares, não identificou a presença de salmonelas, provavelmente por não haver ave infectada no plantel. Entretanto, as amostras apresentaram contaminação na ordem de 103 a 105 UFC/mL por coliformes totais, coliformes fecais, estreptococos fecais, E. coli e organismos mesófilos, já na primeira semana. Amaral et al. (2001) e Valias & Silva (2001) avaliaram a influência do tipo de bebedouros (nipple e taça) na qualidade da água para frangos de corte. A contaminação por bactérias de poluição fecal foi maior nas amostras colhidas nos bebedouros tipo taça. Embora a cloração contínua da água tenha melhorado a qualidade microbiológica em relação ao NMP de coliformes totais e fecais nos bebedouros avaliados (Valias & Silva, 2001), os bebedouros pendulares foram responsáveis por um maior acúmulo de matéria orgânica tendo, então, uma elevada demanda de cloro e uma maior influência na depreciação da qualidade da água fornecida às aves (Amaral et al., 2001; Barros et al., 2001). Da mesma forma, Togashi et al. (2008) avaliaram os efeitos da forma de fornecimento de água sobre o desempenho e a qualidade de ovos de poedeiras comerciais. Verificaram que as aves que utilizaram bebedouro tipo nipple apresentaram maior porcentagem de postura e melhor conversão alimentar. Por outro lado, a qualidade dos ovos não foi influenciada pelo tipo de bebedouro utilizado. Tanto para Amaral et al. (2001) quanto Togashi et al. (2008), o bebedouro tipo nipple mostrou ser o menos deletério no que concerne à qualidade da água, favorecendo o desempenho das aves. Entretanto, Amaral et al. (2001) ressaltam que independentemente do tipo de bebedouro utilizado na dessedentação das aves, a desinfecção da água é um ato imprescindível à manutenção de sua qualidade e à eliminação de futuros patógenos. Além dos microrganismos, compostos químicos podem comprometer o sistema produtivo. Na tabela 4 são apresentados os efeitos de diferentes concentrações de nitratos na água de dessedentação de frangos de corte.
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Outros sistemas produtivos

Pinheiro Jr et al. (2002) analisaram amostras de água do mar de cinco pontos da Baía de Guanabara quanto ao número mais provável (NMP) de coliformes totais e de Escherichia coli, pH, salinidade e temperatura dos locais de colheita. As contagens de E. coli nas amostras de 3 estações foram, em média, acima do previsto na legislação, enquanto que em 2 estações, 92,9% e 100% das amostras tiveram contagens de E. coli menor que 3/100mL. Os resultados indicam provável impropriedade para o cultivo e/ou extrativismo de mexilhões destinados ao consumo nas primeiras 3 estações, enquanto que nas demais indicam provável propriedade para a instalação de cultivo de mexilhões ou mesmo para depuração natural de mexilhões cultivados em águas contaminadas.

Medidas de Prevenção e controle da qualidade da água

Na profilaxia de doenças de veiculação hídrica destaca-se a proteção de fontes de abastecimento, desinfecção da água e controle da qualidade de microbiológica, química e das características físicas (Amaral, 2004). Compostos à base de cloro são os mais usados no tratamento da água usada nas granjas avícolas. Eles podem ser usados como pastilhas contendo hipoclorito de cálcio com 70% de cloro disponível, até bombas dosadoras instaladas na caixa d'água dos galpões que liberam o cloro de acordo com a vazão de água. Hipoclorito de sódio, na concentração de cloro residual livre de 1mg/L, é o composto e dose mais usados. Nas condições de criação avícola, o hipoclorito adicionado à água perde gradativamente grande parte de sua ação germicida até o ponto de consumo (Valias; Silva, 2001).

No sistema produtivo de frangos, preconiza-se a utilização de modelos de bebedouros menos deletérios e o monitoramento semanal de cloro residual nos bebedouros, a fim de se obter uma desinfecção satisfatória da água (Barros et al., 2001). Poços rasos têm maior probabilidade de apresentarem contaminação por microrganismos patogênicos. Para evitar problemas, as fontes de água devem ser analisadas periodicamente para avaliar a presença de contaminantes (Lacaz Ruiz, 1992). Dentre os diferentes métodos para redução de microrganismos na água para dessedentação de animais, encontra-se a filtração lenta. Embora este método não remova totalmente a contaminação microbiana, diminui a concentração de microrganismos e é considerado eficiente para tratamento de águas brutas em pequenas instalações no meio rural (Lacaz Ruiz, 1992). A filtração é um processo físico em que a água atravessa um leito filtrante, em geral areia ou areia e carvão, de modo que partículas em suspensão sejam retidas produzindo um efluente mais limpo. A filtração lenta é uma alternativa com imenso potencial de aplicabilidade em pequenas comunidades de países em desenvolvimento. Este processo tem-se mostrado muito eficiente no tratamento de águas, com resultados muito positivos tendo como fator limitante, a limpeza dos filtros após o funcionamento. Esta é, normalmente, realizada através da raspagem da camada superior de areia, lavagem e recolocação no filtro (Marnoto et al., 2008).
Impacto Ambiental

Uma preocupação, relacionada ao processo de produção intensiva de suínos, tem sido a quantidade de dejetos gerados nas granjas, bem como o potencial poluente e a carga bacteriana que esses representam. A fim de identificar o potencial poluidor do dejeto suíno armazenado, avaliouse a eficácia do armazenamento de dejetos de suínos por 120 dias, em três esterqueiras de propriedades suinícolas localizadas na bacia do lajeado Suruvi, município de Concórdia, região oeste de Santa Catarina (Santos et al., 2007). Os parâmetros analisados foram: decomposição do material carbonáceo, transformação de compostos nitrogenados, adsorção do fósforo e viabilidade de microrganismos patogênicos. Os resultados revelaram que: a) as maiores remoções de material carbonáceo ocorrem entre 30 e 60 dias de armazenamento; b) o ambiente anaeróbio das esterqueiras impossibilitou as remoções de nitrogênio amoniacal por nitrificação/desnitrificação; c) embora as remoções de ortofosfato na fase líquida do dejeto tenham sido significativas, a estocagem por longo período parece favorecer a migração desse elemento para a fase sólida do resíduo, e d) ao longo dos 120 dias de armazenagem, não foi possível reduzir o NMP médio de coliformes (CF e CT), porém os valores remanescentes ainda são elevados, fato que dificulta a disposição do material.
Quanto à determinação de microrganismos, observou-se que houve tendência à manutenção do NMP médio de coliformes (Figura 3) ao longo do tempo, ocorrendo aumento aos 90 dias de estocagem, tanto para coliformes totais (CT) quanto para coliformes fecais (CF). Esse resultado, provavelmente, deve-se ao fato de que o ingresso de dejetos nesses sistemas ocorre de forma contínua, podendo resultar na mistura do material estocado desde a carga inicial do sistema (momento zero) até o seu completo preenchimento (120 dias). Verificou-se semelhança nos valores máximos encontrados de NMP de CT (1,6x107 UFC 100 mL-1) no tempo zero e aos 120 dias de estocagem. Entretanto, o mesmo não foi observado em relação aos CF (1,6x107 UFC 100 mL-1 no tempo zero e 3x106 UFC 100 mL-1 aos 120 dias de estocagem) nas diferentes propriedades estudadas.

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Figura 4. Número Mais Provável (NMP) de coliformes totais (CT) e termotolerantes em dejeto suíno armazenado. Fonte: Santos et al. (2007).
Silva et al. (2008) determinaram o perfil de resistência a antimicrobianos de amostras de E. coli, de oito sistemas de armazenamento de dejetos suínos (esterqueiras) nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Apenas seis (6,25%) amostras de E. coli isoladas foram sensíveis a todos os antimicrobianos testados. As demais foram resistentes a pelo menos um antimicrobiano sendo 36 (37,5%), a pelo menos quatro destes. O número de marcadores de resistência concomitantes variou entre um (n=8) e oito (n=5), e aproximadamente 47% das amostras a dois ou três antimicrobianos. O percentual de resistência observado é apresentado na Figura 5.

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Figura 5. Resistência antimicrobiana (%) de amostras de Escherichia coli isolada em dejetos suínos armazenado. (Legenda: ttr=tetraciclina; acn=ácido nalidixico; sul=sulfonamida; cot=cotrimoxazol; cef=cefaclor; clo=cloranfenicol; amp=ampicilina; cip=ciprofloxacina; neo=neomicina). (Fonte: Silva et al., 2008)
A deposição de efluentes sobre o solo ou a destinação destes para recursos hídricos compromete a qualidade da água a ser utilizada nas diferentes atividades das cadeias produtivas, inclusive na qualidade da água de dessedentação animal, podendo repercutir na sanidade do rebanho e qualidade do produto final, com reflexos econômicos à produção.

Referências Bibliográficas Amaral, L.A. Drinking Water as a Risk Factor to Poultry Health. Brazilian Journal of Poultry Science. v.6, n.4, p.191-199, 2004. Amaral, L.A; Nader Filho, A.; Isa, H.; Barros, L.S.S. Qualidade higiênico-sanitária e demanda de cloro da água de dessedentação de galinhas de postura coletadas em bebedouros tipo Nipple e Taça. Revista Brasi Ciência Avicola. v.3, n.3, p. 249-255, 2001. Barros, L.S.S.; Amaral, L.A.; Rossi Jr., O.D. Aspectos microbiológicos e demanda de cloro de amostras de água de dessedentação de frangos de corte coletadas em bebedouros pendulares. Revista Brasileira de Ciência Avicícola. v.3, n.2, p. 193- 198, 2001. Butolo, J.E. Água: Importância e qualidade. Disponível em: . Acesso em: mai. 2010. CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Ciclo das águas. Disponível em: . Acesso em: jun. 2010. Di Bari, M.; Hachich, E.M.; Melo, A.M.J.; Sato, M.I.Z. Aeromonas spp. and microbial indicators in raw drinking water sources. Brazilian Journal of Microbiology. v.38, p.516-521, 2007. Krumperman, P. H. Multiple antibiotic resistance indexing of Echerichia coli to identify high-risk sources of fecal contamination of foods. Applied Environmental Microbiology. v.46, p.165-170, 1983. Lacaz Ruiz, R. Microbiologia Zootécnica. São Paulo: Roca, 1992. 314p. Marnoto, M.J.; Dalsasso, R.L.; Duarte, E.A.; Sens, M.L. A influência da expansão da areia durante a retrolavagem na qualidade de água para abastecimento produzida por filtros lentos. In: 31 Congreso Interamericano AIDIS, Santiago/Chile, 12 a 15 de outubro de 2008. Disponível em: http://documentos.aidis.cl/Trabajos%20Oral/Tema% 20I%20-%20Agua%20Potable/I-Marnoto-Brasil.doc>. Acesso em: jun. 2010. Rossi Jr, O.D.; Amaral, L.A.; Nader Filho, A. Bactérias do gênero Aeromonas em água de matadouro bovino. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.52, n.5, p.549-553, 2000. Santos, M.A.A.; Schmidt V.; Bitencourt, V.C.; Maroso, M.T.D. Esterqueiras: avaliação físico-química e microbiológica do dejeto suíno armazenado. Engenharia Agrícola. v.27, n.2, p.537-543, 2007. Schneider, R.N., Nadvorny, A.; Santos, M.A.A.; Schmidt, V. Caracterização da microbiota mesófila aeróbia de águas superficiais e subterrâneas da microbacia do Lajeado Suruvi. Acta Scientiae Veterinariae. v.36, p.7-12, 2008. Schneider, R.N., Nadvorny, A.; Schmidt, V. Perfil de resistência antimicrobiana de isolados de Escherichia coli obtidos de águas superficiais e subterrâneas, em área de produção de suínos. Biotemas. v.22, n.3, p.11-17, 2009. Silva, F.F.P.; Santos, M.A.A.; Schmidt, V. Resistência a antimicrobianos de Escherichia coli isolada de dejetos suínos em esterqueiras. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.60, n.3, p.762-765, 2008. Souza, L.C.; Iaria, S.T.; Paim, G.V. Salmonelas e coliformes fecais em águas de bebida para animais. Revista de Saúde Pública. v.26, n.5, p.321-327, 1992. Souza, L.C.; Iaria, S.T.; Paim, G.V.; Lopes, C.A.M. Bactérias coliformes totais e coliformes de origem fecal em águas usadas na dessedentação de animais. Revista de Saúde Pública. v.17, n.2, p. 112-122, 1983. Souza, A.M.; Marques, D.F.; Döbereiner, J.; Dutra, I.S. Esporos e toxinas Clostridium botulinum dos tipos C e D em cacimbas no Vale do Araguaia, Goiás. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.26, n.3, p.133-138, 2006. Togashi, C.K.; Angela, H.L.; Freitas, E.R.; Guastalli, E.A.L.; Buim, M.R.; Gama, N.M.S.Q. Efeitos do tipo de bebedouro sobre a qualidade da água e o desempenho e a qualidade dos ovos de poedeiras comerciais. Revista Brasileira de Zootecnia. v.37, n.8, p.1450-1455, 2008. Valias, A.P.G.S.; Silva, E.N. Estudo Comparativo de Sistemas de Bebedouros na Qualidade Microbiológica da Água Consumida por Frangos de Corte. Revista Brasileira de Ciência Avicola. v.3, n.1, p.83-89, 2001. Venkateswaran, K.; Hashimoto, H. Influence of indicator bacteria on the incidence of Salmonella in aquatic environment. Nippon Suisan Gakkaishi. v.54, n.2, p.253-258, 1988. Viana, F.C.; Moreira, E.C.; Barbosa, M. Qualidade bacteriológica das águas de granjas avícolas do Estado de Minas Gerais: 1973. Arquivos da Escola de Veterinária da UFMG. v.27, p.119-24, 1975. Yáñez, M.A.; Valor, C.; Catalán, V. A simple cost-effective method for the quantification of total coliforms and Eshecherichia coli in potable water. Journal of Microbiological Methods. v.65, n.3, p. 608-611, 2006.
 
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Autores:
Verônica Schmidt
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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João Luis dos Santos
27 de septiembre de 2010
Olá Profa Verônica. Muito bom o artigo. Melhor ainda foi sua apresentação do tema no I SPARH. Penso que precisamos fazer alguma parceria entre a Beraca e universidade nesta área. Abraços João Luis
Andre Marinho Costa
23 de septiembre de 2010
Muito bom artigo, isto me ajudou a esclarescer um problema que um cliente estava tendo, parabens, se eu puder ajudar em alguma coisa. Eu trabalho com engenharia de campo e assistência técnica com equipamentos de evisceração automática, estou a disposição.
Adelino Damazio Oliveira
Daumax
23 de agosto de 2010
Ola Veronica Realmente um bom trabalho que ajuda a muitos profissionais da area a ter uma visão de seu empreendimento, e um artigo muito explicativo com belíssimo conteúdo. Adelino Damazio de Oliveira Consultor e Assessor Industrial ramos de alimentos.
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