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Como Controlar Patógenos Facultativos nas Granjas de Suínos

Publicado: 3 de novembro de 2010
Por: Geraldo Camilo Alberton, Anne Caroline de Lara e Luiz Felipe Caron, Universidade Federal do Paraná (UFPR), PR.
1. INTRODUÇÃO
Na suinocultura intensiva, as principais doenças que acometem os suínos são as multifatoriais, sendo estas enfermidades desencadeadas por fatores de risco existentes nas granjas. Em condições de criações comerciais, poucos suínos chegam ao peso final sem terem adquirido algum tipo de doença, principalmente as entéricas e as respiratórias O impacto econômico destas enfermidades deve-se a diminuição na taxa de crescimento, aumento da conversão alimentar, aumento no uso de antibióticos, eliminação de animais doentes e mortes e condenação de carcaça (SORENSEN et al., 2006). A grande maioria dos agentes que causam as doenças mais freqüentes na suinocultura pode ser encontrada em todas as granjas, sem necessariamente causar doença. Estes agentes podem ser considerados como patógenos facultativos, pois a presença dos mesmos no animal ou no rebanho é natural e esperada. Como exemplo cita-se Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis, Streptococcus suis e Mycoplasma hyorhinis. Por outro lado, existem agentes que quando presentes no rebanho, sempre desencadeiam a doença, como é o caso do Mycoplasma hyopneumoniae, além dos agentes primários como vírus da Doença de Aujeszky e da Peste Suína Clássica.
Estes não são considerados patógenos facultativos, portanto, na medida do possível, as granjas devem ficar livres dos mesmos. Embora os patógenos facultativos possam permanecer sem causar doenças, nas últimas décadas eles têm causado prejuízos de grande monta à suinocultura, desencadeando doenças como a Doença de Glasser, a pleuropneumonia, a meningite estreptocócica, enterites, entre outras. Para controlar estas doenças, tem se destacado o uso profilático e metafilático de antibióticos, vacinação e medidas de biossegurança. Apesar do avanço sanitário significativo que estas medidas proporcionaram à suinocultura, as doenças causadas pelos patógenos facultativos continuam sendo muito freqüentes nos dias de hoje, sendo que algumas delas como a Doença de Glasser, tem se manifestado com mais freqüência do que no passado.
Adicionalmente, alguns agentes que raramente causavam doença, atualmente têm provocado prejuízos, como é o caso do Mycoplasma hyorhinis e o Clostridium difficile. O fracasso no controle das enfermidades causadas por agentes da microbiota normal e o surgimento de novas doenças também causadas por agentes que sempre estiveram nas granjas nos faz refletir sobre a maneira como a suinocultura está enfrentando este problema e, se as estratégias de controle destas enfermidades podem estar contribuindo para que novas doenças surjam e que patógenos facultativos encontrem oportunidade para causar doenças. Como os patógenos facultativos possuem capacidade de causar doença, para que o convívio com os suínos seja harmonioso, uma série de condições deve ser atendida, caso contrário, muitas enfermidades surgem na granja. Deste modo, o objetivo desta revisão é apresentar os princípios básicos sobre microbiota normal e exclusão competitiva, bem como discutir algumas práticas de manejo que podem auxiliar no estabelecimento da microbiota normal dos suínos.
2. COLONIZAÇÃO E IMUNIDADE
Os leitões ao nascer são colonizados por uma série de microrganismos, sendo que a porca e o ambiente são as principais fontes destes agentes. A colonização por estes agentes no momento que a imunidade passiva é alta, é um mecanismo natural de proteção da leitegada e, de acordo com OLIVEIRA et al., (2001) no caso do H. parasuis e S. suis esta colonização precoce com cepas patogênicas da granja, é o principal mecanismo de proteção da leitegada contra a doença causada por estes agentes na fase pós-desmame. Alguns agentes como o S. suis colonizam os leitões já no momento do nascimento (AMASS et al., 1995) e outros colonizam ao longo da lactação, como o H. parasuis aos 14 dias (KIRKWOOD et al., 2001) e o A. pleuropneumoniae aos 28 dias (CHIERS, et al., 2002).
Deste modo, leitões desmamados precocemente apresentam menor percentual de colonização do que leitões desmamados com 28 dias de idade (KIRKWOOD et al., 2001). O ponto chave no sucesso da colonização dos leitões, sem o desencadeamento da doença, está na existência de imunidade aos agentes colonizadores, caso contrário, se a cepa colonizadora for patogênica, a mesma pode desencadear a doença. Neste sentido, biologicamente, os leitões devem receber a maior parte da colonização pelo contato com sua mãe, que, por outro lado, lhe fornece também a imunidade passiva para os agentes que estão sendo transferidos, de modo que o equilíbrio entre agente e imunidade permitirá que não ocorra a doença. Portanto, para que os patógenos facultativos estejam em equilíbrio com os animais, deve ocorrer grande transferência destes agentes da porca para os leitões no período enquanto a proteção pela imunidade passiva é maior. Dois fatores devem ser analisados a partir desta situação de manejo, a própria função da imunidade passiva e o resultado da colonização precoce das mucosas, ambos imunologicamente de grande relevância para o desempenho deste indivíduo no futuro. Inicialmente, como a própria função desta imunidade passiva, na forma de anticorpos passados pelo colostro, na medida em que são homólogos aos desafios iniciais do ambiente, permitem que o neonato suporte um desafio inicial, resultando no contato com o patógeno e estimulação da imunidade adaptativa deste leitão para recrutamento da mesma em desafios futuros, com sobrevivência e desempenho zootécnico adequado. O outro fator a ser analisado é o resultado direto desta colonização precoce das mucosas, principalmente, que culmina com o incremento da resposta inata constitutiva. Esta será a resposta mais interessante para o animal na sua vida produtiva, pelo baixo custo metabólico de manutenção e de uso (LEE, 2006).
A comprovação de que a colonização precoce dos leitões com cepas potencialmente patogênicas da própria granja protege os leitões contra a doença tem sido demonstrada com bactérias como o S. suis (TORREMORELL et al., 1999; OLIVEIRA et al., 2001) e H. parasuis (OLIVEIRA et al., 2001). No estudo realizado por OLIVEIRA et al., (2001) foram infectados experimentalmente leitões com cepas patogênicas de H. parasuis e S. suis, por meio de dois protocolos diferentes, ou seja, pelo contato com porcas previamente infectadas antes do parto ou, infecção direta dos leitões aos 5 dias de idade. Ambos os protocolos foram seguros e permitiram a colonização dos leitões, reduzindo a incidência da doença na fase de creche. No estudo de TORREMORELL et al., (1999), infectaram-se experimentalmente leitões com 5 dias de idade com cepas de S. suis 2 previamente isolada de leitões com quadro clínico de meningite. A infecção experimental preveniu o aparecimento das doenças causadas pelo S. suis. Comparativamente com a vacina, a infecção experimental de leitões com cepas patogênicas de H. parasuis também demonstrou melhores resultados que a vacinação tanto com vacinas comerciais quanto com as autógenas. Embora os autores tenham ressaltado uma série de fatores que possam ter interferido nos resultados vacinais, os mesmos concluíram que o uso de exposição controlada de leitões jovens a cepas patogênicas de H. parasuis é uma valiosa alternativa ao uso de vacinas (OLIVEIRA et al., 2004). Entretanto, vale lembrar que grande parte das bactérias que colonizam os leitões possui potencial patogênico, de modo que em algumas doenças, como por exemplo, a meningite estreptocócica, a presença de portadores sadios associado a fatores de risco, principalmente ambiência inadequada, que predispõe a queda de imunidade, é suficiente para desencadear a doença clínica no rebanho (QUINN et al., 2005).
Assim sendo, tanto a presença como a ausência dos agentes colonizadores precoces deve ser encarada como fator de risco, sendo que a ausência é muito mais perigosa para o rebanho. Uma questão importante a ser analisada é o papel biológico destes patógenos facultativos. As bactérias existem como seres integrados em seus nichos, e não como agentes infecciosos. Sua colonização em locais inadequados é que recebe os termos de infecção ou contaminação, mas do ponto de vista do ambiente natural estas bactérias estão cumprindo seus papéis (FIORENTIN, s.d). Neste sentido, quando uma determinada doença é desencadeada no rebanho, antes de se incriminar os possíveis responsáveis pela introdução daquele agente patogênico no plantel, deve haver a análise das possíveis práticas de manejo que favoreceram o desencadeamento da doença por um agente que já existia na granja. Esta análise fica ainda mais reforçada, quando observamos estudos com microbiota normal dos javalis, que são do mesmo gênero e espécie do suíno doméstico. Nestes animais em vida livre, OLVERA et al. (2007) observaram similaridade de microbiota do trato respiratório superior com as dos suínos domésticos. Observaram, também, que as cepas de H. parasuis encontradas nos javalis não eram diferentes das observadas nos suínos domésticos. Importante salientar, que a Doença de Glasser não é uma enfermidade relatada em javalis de vida livre, o que nos demonstra que o desencadeamento desta doença nas criações de suínos modernas, deve-se a uma falha na convivência com o agente; e não uma conseqüência natural da presença do mesmo no rebanho. Para reduzir os riscos de doenças nas granjas, tem sido proposta a erradicação destes patógenos facultativos. Entretanto, a eliminação de uma bactéria em um ambiente abre vaga para novo organismo, o qual estava sendo excluído pela presença da primeira. Na maioria das vezes, o novo organismo tem impacto absolutamente imprevisível (FIORENTIN, s.d). Neste sentido, BÄUMLER et al, (2000) apresentaram uma teoria que tenta explicar a alta freqüência da contaminação de ovos e a ocorrência de tantos surtos recentes de infecções por Salmonella Enteritidis em pessoas: a S. Enteritidis, que antes se restringia aos roedores, passou a ocupar nicho deixado nas criações de aves comerciais pela erradicação de S. Pullorum-Gallinarum. Em outras palavras, a infecção por S. Pullorum-Gallinarum proporcionava exclusão competitiva de S. Enteritidis.
De forma similar BAILEY (2009), aponta para estas interações na mucosa de suínos, aventando as futuras direções que cada vez mais ganham espaço com os pró e prébióticos, determinando estas exclusões possíveis. Em condições normais, a maior parte dos agentes patogênicos precisa de um sítio de ligação para se fixar no hospedeiro e, a partir daí, iniciar sua multiplicação. Baseado nesse conceito, a competição de sítios específicos é uma forma interessante de controlar a manifestação clínica de alguns patógenos, por meio da exclusão competitiva. Deve-se considerar que somente a interferência no processo de adesão das bactérias à célula não é capaz de prevenir a colonização e a infecção (REID et al., 2001).
Este princípio é baseado em cepas com diferentes graus de patogenicidade, porém com antígenos comuns. Uma vez que o sítio de ligação em questão está ocupado por bactérias menos virulentas, porém com antígenos comuns às cepas virulentas, este sítio não estará disponível para a fixação de cepas mais virulentas, caso a mesma esteja presente na granja. Ainda com relação aos patógenos facultativos, observa-se que a presença deles no organismo dos leitões é favorável ao controle de doenças por dois mecanismos diferentes, ou seja, a exclusão competitiva, onde um agente menos patogênico ocupa o nicho que poderia ser ocupado por outro mais patogênico; e a segunda forma seria a adaptação ao agente, independentemente da cepa ser patogênica ou não. Ainda assim, como descrito por NOVERR e HUFFNAGLE (2004) a microbiota residente regula a resposta imune também fora do intestino ou pulmão, ou seja, questões como tolerância imunológica e intensidade da resposta inflamatória são determinadas pela co-existência destes patógenos facultativos, a ponto dos autores culminar o artigo com a pergunta “É a microbiota o principal regulador do sistema imune?” Assim sendo, o manejo de maternidade tem um reflexo muito grande na saúde dos leitões nas fases subseqüentes. Várias práticas de manejo interferem sobremaneira na colonização dos leitões, como, por exemplo, o uso de antibioticoterapia preventiva nas porcas e leitões, uso de vacinas e desmame com menos de 21 dias. Adicionalmente, outras práticas afetam a transferência de imunidade da porca para os leitões, como por exemplo, a preparação da leitoa, o manejo da ingestão do colostro e a transferência de leitões entre porcas.
3. PRÁTICAS DE MANEJO PARA EQUILIBRAR COLONIZAÇÃO E IMUNIDADE DOS LEITÕES
3.1. Adaptação sanitária das leitoas
As leitoas possuem menor capacidade de transferência de microbiota para suas leitegadas e, da mesma forma, transferem menos imunidade passiva aos seus leitões. Deste modo, os leitões filhos de primíparas são considerados potenciais amplificadores de doenças, pois adoecem mais facilmente, amplificando os patógenos e aumentando a pressão de infecção; de tal forma que, até leitões que normalmente não desenvolveriam a doença, passam a adoecer devido ao desafio muito elevado. Desta forma, deve ser dada atenção especial ao manejo de adaptação sanitária destas futuras matrizes. Esta etapa deve ser realizada assim que as leitoas chegam a granja de destino, e deve ter duração de pelo menos dois meses (HEUSER, 1999). Neste período as fêmeas serão submetidas ao manejo de indução de puberdade e, paralelamente à adaptação sanitária, que consiste na exposição a animais mais velhos e materiais biológicos potenciais carreadores de microrganismos que irão infectar as leitoas.
É importante salientar que este manejo deve ser encerrado pelo menos 15 dias antes da cobertura, evitando, desta forma, que a contaminação pelo parvovírus ou por outros vírus causadores de perdas reprodutivas, ocorra durante a gestação. Para leitoas alojadas em quarentena, este manejo de adaptação sanitária deve ser iniciado ainda nestas instalações, caso contrário, o tempo disponível para este manejo será reduzido. Deve-se dar preferência na aquisição de leitoas o mais jovem possível, pois quanto mais tempo elas ficarem em adaptação com a microbiota da nova granja antes da primeira cobertura, melhor será a transferência de anticorpos e microbiota para os leitões. De forma prática, as leitoas devem ficar alojadas o mais próximo possível de porcas mais velhas e, o ideal é que na baia das leitoas fosse alojada uma porca multípara, podendo ser um animal descarte. Durante o manejo de indução de puberdade, o cachaço, que deve ser um animal adulto e de boa libido, deve ser introduzido na baia das leitoas, a fim de que ocorra melhor estímulo sexual e maior contaminação das leitoas com secreções, fezes e urina do macho. O cachaço deve permanecer no mínimo 15 minutos em cada baia, sempre com a supervisão de um funcionário. Algumas vezes na semana, deve ser jogadas nas baias das leitoas, fezes de porcas multíparas, bem como placentas e fetos mumificados picados (BARCELLOS et al., 2007). Este tipo de manejo não deverá ser realizado em granjas que possuam doenças primárias como leptospirose e Aujeszky, pois os agentes causadores destas enfermidades podem ser disseminados pelo manejo.
3.2 Evitar o uso preventivo de antibióticos para as porcas na fase pré e pós-parto
Uma prática bastante disseminada na suinocultura é a de medicar as rações das porcas com antibióticos de amplo espectro no período pré e pós-parto. Estas medicações auxiliam no controle de infecções urinárias, reduzindo então problemas puerperais, favorecendo o desenvolvimento dos leitões na maternidade. Por outro lado, estas medicações interferem na capacidade de colonização dos leitões pela microbiota normal, favorecendo, desta forma, o aparecimento de doenças nas fases de creche, recria e terminação.
Vale ressaltar que a interferência que os antibióticos exercem na microbiota normal compromete o amadurecimento e a modulação do sistema imunológico (NOVERR e HUFFNAGLE, 2004). Como alternativa à antibioticoterapia preventiva, sugere-se medicar as porcas com problema de infecção urinária, aos 80 dias de gestação, de modo que, por ocasião do parto, estas fêmeas já estejam curadas e com suas microbiotas reequilibradas. 3.3. Não utilizar antibioticoterapia preventiva nos leitões na maternidade Como os leitões são muito susceptíveis à doenças como artrites, epidermites e diarréias na fase de maternidade, utiliza-se com freqüência a medicação preventiva com antibiótico de amplo espectro e de longa duração. Estas medicações podem interferir na colonização precoce, prejudicando a estabilidade sanitária do rebanho. Esta prática de manejo deve ser substituída por melhorias de manejo e, com destaque para a limpeza e desinfecção das celas parideiras antes do alojamento das porcas, bem como o controle de temperatura e umidade. O uso de antibiótico nesta fase deve ser somente curativo ou metafilático.
3.4 Manejo adequado de ingestão do colostro e uniformização de Leitegadas
As porcas possuem placenta epiteliocorial e, desta forma, não existe transferência de anticorpos para os fetos via placenta. Deste modo, os leitões dependem da ingestão imediata do colostro para receber a imunidade passiva da mãe, sendo que a concentração de IgG no plasma de leitões neonatos está positivamente relacionada com a taxa de sobrevivência dos mesmos (HEIM et al., 2009). Como o epitélio intestinal dos leitões neonatos é permeável a macromoléculas como as imunoglobulinas apenas nas primeiras horas de vida, a partir de 12 horas de nascimento, esta transferência começa a diminuir, e torna-se praticamente nula entre 24 e 36 horas pós-parto. Além das imunoglobulinas, o colostro desempenha função importante de nutrição, maturação e desenvolvimento do epitelio intestinal, maturação de enzimas intestinais e desenvolvimento e modulação do sistema imune.
O colostro também possui células do sistema imune da porca como polimorfonucleares, linfócitos e macrófagos (SALMON et al., 2009) que após a ingestão do colostro, atravessam a parede intestinal e invadem os linfonodos e outros tecidos dos leitões. Para que esta imunidade celular seja absorvida e colonize os órgãos linfóides, é necessário que os leitões mamem em suas mães biológicas, caso contrário estas células de defesa não atravessam o instestino dos leitões (TUBOLY e BERNÁTH, 2002). Deste modo, quando os leitões tomam o colostro nas suas mães adotivas, as células de defesa não colonizam os órgãos linfóides, e os leitões perdem esta linha de defesa. A máxima transferência de imunidade via colostro ocorre nas primeiras cinco horas de vida do leitão. Portanto, a transferência deve ser realizada após cinco horas de permanência com suas mães biológicas e, somente quando necessário. Os leitões devem ser supervisionados por um funcionário, permitindo que todos tenham acesso ao aparelho mamário e façam mamadas de sucesso.
Deve-se evitar ao máximo a prática de homogeneização por pesos, com mistura intensa de leitões de diferentes porcas, sendo que o máximo de transferências de leitões deve ser de 20%, diminuindo assim os desequilíbrios entre imunidade e colonização. O tempo máximo para transferência é de 24 horas, pois após este período a capacidade de absorção de anticorpos do colostro da mãe adotiva será muito pequena, e é muito importante que ocorra esta absorção, para que haja um equilíbrio entre a microbiota que ele vai receber da mãe adotiva com os anticorpos transferidos via colostro desta mãe. Não são recomendáveis novas transferências após as 24 horas de nascimento para equilibrar peso de leitegada, pois os novos reagrupamentos além de provocarem brigas e diminuírem o peso de desmame (ROBERT e MARTINEAU, 2001), geram novos desequilíbrios entre colonização e imunidade. A imunidade passiva transferida pelo colostro não interfere na colonização da mucosa nasal e tonsilar por agentes como, por exemplo, A. pleuropneumoniae (CHIERS et al., 2002) e permite que a colonização ocorra sem desencadeamento da doença. Assim como as defesas específicas associadas ao colostro e ao leite, o estímulo do mesmo na maturação do intestino e órgãos imunes incrementa sobremaneira a defesa inata e contribui com componentes de ação anti-microbiana nas fases iniciais, o que resulta num custo imune menor (KELLY e COUTTS, 2000).
3.5 Uso racional da vacinação
Embora as vacinas apresentem uma série de vantagens quando comparadas com outras estratégias de controle de doenças, o emprego das mesmas para o controle de patógenos facultativos merece avaliação criteriosa, pois os efeitos podem não ser vantajosos para todas as granjas e tampouco para todas as doenças. Como foi relatado no item 2, para que ocorra equilíbrio entre colonização e imunidade, os leitões devem ser colonizados precocemente, na fase em que eles possuem imunidade passiva. Embora as vacinas aumentem a transferência de imunidade passiva, as mesmas podem diminuir a colonização dos leitões. CERDÀ-CUÉLLAR et al., (2010) observaram que a vacinação de porcas reduziu não só a colonização do trato respiratório superior de leitões, bem como a variabilidade das cepas de H. parasuis colonizando os leitões. TORREMORELL et al (1998), em estudo com colonização natural de leitões por S. suis, verificaram que leitões filhos de porcas vacinadas com vacina comercial para S. suis 2, apresentaram menor percentual de colonização por S. suis 2 na desmama, mas não houve interferência no percentual total de colonização por todos os S. suis pesquisados.
Paradoxalmente, o que pode ser uma vantagem no controle de doenças, este efeito na redução da colonização pode gerar animais mais susceptíveis a doenças nas fases de creche ou de recria, pois os leitões recebem imunidade, mas não se contaminam no mesmo momento. Portanto, o uso de vacinas para patógenos facultativos deve ser recomendado para granjas onde estes agentes estejam causando problemas sanitários relevantes, e sendo que o uso da mesma em granjas sem problema sanitário além de não evitar o aparecimento da doença, pode gerar animais mais susceptíveis à doença para qual eles foram vacinados. A grande diversidade de agentes que podem acometer o leitão desde o nascimento, faz com que a adaptação do indivíduo recrute o sistema imune de forma equilibrada, caso contrário as respostas comprometerão a sobrevivência e o desempenho zootécnico.
Dentre as ferramentas disponíveis no manejo sanitário, a vacinação normalmente é utilizada com a expectativa da melhoria das condições a curto prazo, onde a sobrevivência do indivíduo é o parâmetro avaliado. Na medicina veterinária, associada a medidas de biossegurança, a vacinação sempre deve ser avaliada como uma medida a longo prazo, onde mais do que o próprio indivíduo, a melhoria do ambiente é o principal parâmetro de sucesso, caso contrário o desequilíbrio potencial na ecologia da microbiota aliado a pressão de seleção que pode favorecer a adaptação de novas cepas, trará consequências indesejáveis, com as enfermidades emergentes e re-emergentes sendo uma realidade cada vez mais freqüente (HAESEBROUCK, et al., 2004; WEBSTER et al., 2006). LIPSITCH (1999) descreveu com modelos matemáticos o resultado de pesquisas realizadas com a utilização de vacinas contra Haemophilus e Streptococcus, as quais, a médio prazo, determinaram o surgimento de novos sorotipos destes patógenos, pela própria pressão de seleção causada pelas vacinas, fato este também percebido por ZINKERNAGELL (2003), principalmente com vacinas bacterianas inativadas.
3.6 Não desmamar com menos de 21 dias de idade.
Além de um correto manejo de colostro, a idade de desmame é extremamente importante, pois animais que permanecem um período maior em contato com a mãe, tendem a apresentar melhor colonização pelos patógenos facultativos. Em estudo realizado por KIRKWOOD et al. (2001), foi observado que leitões filhos de porcas mais velhas e que foram desmamados mais tarde, tiveram percentual maior de colonização por H. parasuis quando comparados com filhos de primíparas ou com leitões desmamados precocemente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As estratégias de controle dos patógenos facultativos que a suinocultura tem adotado nas últimas décadas têm sido frustrantes, pois além de não controlar efetivamente os agentes, tem contribuído para o surgimento de novas doenças. Deste modo, as evidências científicas indicam que o futuro será conviver com estes agentes, respeitando o equilíbrio natural entre os hospedeiros e sua microbiota. O mais interessante de tudo isso é que, embora a produção animal disponha de tecnologia da mais alta qualidade, as soluções para o enfrentamento dos problemas com os patógenos facultativos envolverá as práticas de manejo mais simples e básicas. Novos produtos estão disponíveis na suinocultura, como os probiótico, os prébióticos, os ácidos orgânicos e os óleos essenciais. As pesquisas com estas substâncias têm sido animadoras e provavelmente estes produtos serão grandes aliados na busca pela estabilidade sanitárias dos rebanhos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BAILEY, M. The mucosal immune system: Recent developments and future directions in the pig. Developmental and Comparative Immunology, v. 33, p. 375–383, 2009.
BARCELLOS, D.E.S.N.; ALMEIDA, M.N.; LIPPKE, R.T. Adaptação e quarentena de matrizes suínas: conceitos tradicionais e o que está vindo por aí! Acta Scientiae Veterinariae. 35: S9-S15, 2007.
BÄUMLER, A.J.; HARGIS, B.M; TSOLIS, R.M. Tracing the Origins of Salmonella Outbreaks. Science, n. 7, v.287, p. 50-52, 2000.
CERDÀ-CUÉLLAR, M.; NARANJO, J.F.; VERGE, A.; NOFRARÍAS, M.; CORTEY, M; OLVERA, A.; SEGALÉS, J.; ARAGON, V. Sow vaccination modulates the colonization of piglets by Haemophilus parasuis. Veterinary Microbiology, 2010.
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