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Criação coletiva de porcas prenhas garante bem-estar e produtividade

Publicado: 25 de fevereiro de 2013
Fonte : Globo Rural
Garantir o bem-estar de bois, frangos e suínos, que nos alimentam, é uma exigência cada vez mais difundida em todo o mundo. Além de melhorar o conforto na granja, esse manejo não perde o foco dos índices de produção.
Os porcos, por natureza, são animais sociais, gostam de viver em grupo de seis a dez indivíduos. Formam hierarquia definida, com a eleição de quem manda e quem obedece. Se o grupo não estiver bem estabelecido,  costuma ter briga. Por isso, separar com grades, aparentemente resolve o problema. Confinar porcas durante a gestação  foi a maneira encontrada por produtores do mundo todo para aumentar  a produtividade das matrizes.
Noventa e nove por cento das granjas de produção de porcos no Brasil adotam o sistema de confinamento. Se comparada com a criação onde os animais ficam soltos, a gaiola facilita o manejo. É mais simples, por exemplo, fazer o controle de cio e determinar a quantidade de alimento de cada uma. Por muito tempo, acreditou-se que movimentar-se provocava aborto.
No entanto, pesquisas mostram que matrizes em condições de confinamento podem ter estresse crônico e isso  leva a problemas de comportamento, fisiológicos e sanitários. Os animais até produzem dentro do esperado, mas podem não estar tão bem assim.
A veterinária Júlia Neves, mestre em comportamento e bem-estar animal do Instituto Federal de Brasília, avalia três aspectos sobre as condições dos animais. “Uma delas é o comportamento natural dele, o outro é a fisiologia desse animal, como quantos leitões por leitegada, se o animal está doente, observar os índices zootécnicos. A outra seria a psicologia do animal. Observar a qualidade de vida que esse animal está tendo no sistema de produção escolhido. Animais frustrados, por exemplo, vão demonstrar alguns comportamentos anormais ou repetitivos, já que ele não tem nada pra fazer nesse sistema em gaiola, ele só deita e levanta, bebe água e come”, completa.
A Fazenda Miunça, na zona rural de Brasília, tem uma produção conceituada, já tradicional no mercado, com 26 anos. Dois terços do plantel, de 3.800 matrizes são criados em gaiolas, da forma convencional. Mas uma reclamação das mulheres da família do dono da fazenda de Rubens Valentini fez com que ele testasse, há dois anos, um novo método com parte das matrizes.
“Começou com um certo desconforto familiar da minha mulher e filhas com relação às porcas presas o tempo todo. Mais recentemente, com a disponibilidade de equipamentos a preços competitivos, eu achei que seria a hora. Nós também atenderíamos uma tendência de mercado, que já existe em outros países, e que fatalmente vai chegar no Brasil”, declara Valentini.
A nova tendência se chama criação coletiva de porcas em gestação. A União Européia aprovou uma lei que prevê a proibição das gaiolas a partir deste ano. Nos Estados Unidos,  sete estados  sancionaram leis semelhantes.
Aqui no Brasil, não há legislação sobre o assunto, e a Fazenda Miunça é pioneira nessa experiência. O sistema funciona assim: a baia coletiva é subdividida em várias baias menores, chamadas de baias de fuga.  No centro fica a máquina de alimentação automatizada. É instalado um comedouro automatizado para cada 80 fêmeas. O segredo da criação coletiva é não deixar que os animais tenham que disputar comida.
As matrizes chegam com 120 dias e precisam passar por um treinamento. Acostumadas a receber alimentação da forma tradicional, elas descobrem que no novo sistema o alimento fica dentro de uma máquina, de forma automatizada. Elas passam três semanas na baia, convivendo com o equipamento, que ganhou o apelido de máquina tonta.
É tonta porque na primeira etapa não tem nada automatizado, como explica o gerente de produção, Marco Aurélio de Souza. “Na primeira semana a gente deixa toda a porta aberta pra ela passar ali dentro. Na segunda semana, meia porta aberta e na terceira semana já toda fechada, igual ao sistema automatizado”, diz.
Cada matriz recebe um chip na orelha, que armazena as informações individuais. “Nele têm dados de dias de gestação, curva de alimentação, se ela é prenhe ou vazia, todos os dados ficam registrados”, explica Marco Aurélio.
As matrizes  passam o tempo todo no galpão coletivo. Elas formam seus grupos naturalmente. Ficam assim até a hora do parto, quando vão para gaiolas de parição, iguais ao do sistema convencional, a fim de evitar o esmagamento dos leitõezinhos. Nos cantos das baias de fuga elas dormem, e saem na hora de ir ao banheiro, por isso, o lugar de dormir e descansar está sempre limpo.
Quando querem comer é só ir para a máquina. Cada porca pode passar o tempo que quiser lá dentro, mas assim que a porção total de ração destinada a ela for consumida, o prato é recolhido. Uma porca sai e outra entra. Os veterinários e nutricionistas fazem os cálculos e o programa define quanto cada uma pode comer.
Quando o animal passa pelo sensor, o equipamento faz a leitura e a porção cai no pote. Se a porca sair antes de terminar a quantidade a que tem direito no dia, pode voltar depois. O equipamento só vai liberar o que ficou faltando.
O nutricionista da fazenda, Moacir Furtado, explica as vantagens desse sistema. “Faz bem porque o animal ingerindo fracionadamente, além de ele não ter um estresse, se consegue uma digestão melhor, melhor aproveitamento do alimento, essa diminuição do estresse reduz a incidência de gastrite, de úlcera, de problemas dessa ordem”, declara.
A Sociedade Mundial de Proteção Animal, a WSPA Brasil, apoia esse manejo de gestação coletiva. A gerente de animais de produção, Charli Ludtke avalia a experiência. “É possível ter produtividade e bem-estar em uma condição como essa, porque você respeita o comportamento do animal e ao mesmo tempo o produtor tem índices de produtividade muito bons e os animais não são tão estressados”.
A nova experiência está agradando a fazenda. A média de nascimentos no ano passado ficou igual, tanto no sistema convencional quanto no coletivo: 15 leitões por fêmea. Mas os leitõezinhos da gestação coletiva nascem maiores: em média, com um 1,5 Kg. No sistema tradicional, a média foi de 1,380 Kg.
Montar uma granja nova, com gestação coletiva, representa um aumento entre 9% e 12% no custo de construção das instalações, mas segundo o veterinário Glauber Machado, que presta assessoria também para outras fazendas interessadas neste manejo, o investimento vale à pena. “Este sistema de produção traz algumas oportunidades de melhorias, ele permite que você adote algumas precisões de manejo que no tradicional você consegue fazer”.
Outra vantagem é que a mão-de-obra diminui. No sistema de gestação tradicional, a lotação é de 210 matrizes por funcionário. Na gestação coletiva, mais que o dobro, 430 matrizes por pessoa.
Na Fazenda Miunça a nova granja não trouxe desemprego, já que havia falta de mão-de-obra. O que aconteceu foi a qualificação de trabalhadores, como Marcos que há onze anos fazia a limpeza das baias e hoje é gerente de 50 outros funcionários.
“Hoje o bem-estar é um estímulo a mais, porque tem um sistema automatizado, onde o funcionário vai mexer no computador. O sistema convencional não tem isso como atrativo. Além do bem-estar dos animais. É mais satisfatório ver um animal mais contente, não ver o animal estressado”.
A experiência chamou a atenção da Embrapa, que está fazendo pesquisas para passar a técnica para o maior número possível de produtores, como explica o pesquisador Osmar Dalla Costa. “O custo de produção no sistema de baia coletiva é mais alto somente na gestação. Na maternidade, creche e terminação, os custos são os mesmos. O investimento é pra vida toda. Você gasta uma vez, 10% a mais na gestação, mas tem uma redução significativa na utilização de mão-de-obra. Além disso, tem um controle mais rigoroso na alimentação. Isso faz com que ao longo da cadeia produtiva, da produção animal, esses custos desapareçam”, defende.
A pressão dos consumidores tem sido decisiva para a difusão das técnicas do bem-estar animal. O tema já está sendo incluído em negociações internacionais. Por exemplo: na última cúpula Brasil- União Européia, em janeiro, foi assinado um protocolo de cooperação técnica para melhoria das condições dos animais destinados a produção de alimentos.
Fonte
Globo Rural
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