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estratégias tratamento mastite

Novas estratégias para o tratamento da mastite bovina - parte 2.

Publicado: 5 de setembro de 2012
Por: Marcos Veiga dos Santos, Tiago Tomazi, Juliano Leonel Gonçalves.
Protocolos para tratamento da mastite crônica
As baixas taxas de cura dos tratamentos convencionais durante a lactação, em especial para tratamento de infecções crônicas causadas por Staphylococcus aureus, têm estimulado a busca de novas estratégias de tratamento, entre as quais destacam-se a terapia combinada, a terapia estendida e o uso combinado de vacinação e tratamento intramamário. Essas estratégias, mesmo com maiores custos, podem ser viáveis em situações nas quais os rebanhos apresentam alta prevalência de infecções crônicas. Para tanto, a viabilidade de uso destes protocolos de tratamento deve levar em conta fatores ligados à vaca (idade, estágio de lactação, CCS antes do tratamento).

Terapia combinada
Os antimicrobianos empregados para o tratamento de mastite durante a lactação podem ser administrados por via sistêmica ou intramamária. As principais vantagens do tratamento intramamário é a elevada concentração da droga no leite após a infusão e o baixo consumo de antibiótico. No entanto, pela via intramamária a droga não penetra em regiões mais profundas do úbere. Para os antimicrobianos administrados por via sistêmica, é necessário que a droga se difunda passivamente para a glândula mamária, atue na presença de leite e de debris inflamatórios e mantenha concentrações inibitórias mínimas. Dessa maneira, o objetivo da terapia é manter maior concentração de antibióticos no quarto afetado por um período suficiente para eliminar o agente causador. 
Para tratamentos intramamários, os princípios ativos que são ácidos fracos (amoxicilina, cefapirina, penicilina) apresentam melhor distribuição na glândula mamária do que as bases fracas (diidroestreptomicina, eritromicina, pirlimicina), pois uma maior concentração da droga está na forma não-ionizada no leite. Por outro lado, para administração sistêmica de antibióticos para tratamento de mastite, as bases fracas são preferidas, pois no plasma uma maior concentração da droga está na forma não ionizada, o que permite maior passagem do plasma para o leite.
Para casos de mastite crônica, o uso combinado de terapia intramamária e sistêmica de antibióticos aumenta as concentrações da droga nos locais da infecção e, por consequência, aumenta as taxas de cura. Foram avaliados dois protocolos de tratamento para mastite causada por S. aureus: infusão intramamária de 62,5 mg de amoxicilina por 3 dias ou a mesma infusão intramária mais injeção intramuscular de penicilina G por 3 dias. Os resultados indicaram que houve aumento da taxa de cura de 25% (tratamento intramamário) para 51,4% (terapia combinada).
Adicionalmente, ocorreu maior redução da contagem de células somáticas do leite de quartos sob regime de terapia combinada, quando comparada ao tratamento intramamário. A taxa de cura de mastite clínica causada por S. aureus aumenta de 40% (tratamento intramamário, 3 dias de duração) para 60% (terapia combinada).

Terapia estendida
A duração do tratamento é um importante fator que influencia o resultado do tratamento. O estágio de lactação é outro importante fator que determina a relação custo:benefício do tratamento, pois mesmo em casos com alta probabilidade de cura, vacas em final de lactação apresentam menor potencial de retorno econômico que aquelas em início de lactação. 
A terapia estendida consiste no aumento da duração do tratamento intramamário (5 a 8 dias), em relação ao tratamento convencional de 3-4 dias de duração. Em uma recente revisão sobre estimativa de cura bacteriológica da mastite clínica, em função do tipo de agente causador e da duração do tratamento, foram estimadas taxas de cura em função da duração do tratamento, em vacas adultas com mastite clínica causada por S. aureus de 10% (2 dias), 20% (5 dias) e 35% (8 dias). As vacas primíparas apresentam maiores taxas de cura, em média 5 unidades percentuais, que vacas adultas. Para estreptococos ambientais, as taxas de cura estimadas foram: 25% (sem tratamento), 55% (2 dias), 65% (5 dias) e 75% (8 dias). Para o grupo dos estafilococos coagulase-negativa, as taxas de cura estimadas foram: 55% (sem tratamento), 70% (2 dias), 75% (5 dias) e 80% (8 dias). Estima-se que as taxas de cura para mastite causada por S. aureus aumentam em 25 unidades percentuais quando a duração do tratamento intramamários passou e 3 para 5 dias.
Entre os potenciais benefícios da terapia estendida, pode-se citar a redução da contagem de células somáticas, a melhoria da qualidade do leite e o aumento da produção leiteira. Esses benefícios devem ser analisados, no entanto, em relação aos custos do antibiótico, descarte de leite com resíduos e riscos de infecção pelo uso de infusões repetidas no mesmo quarto. O aumento da duração da terapia aumenta a cura bacteriológica de mastite causada por S. aureus e estreptococos ambientais, contudo o uso como rotina sem prévia conhecimento do agente causador não é economicamente viável, em razão do aumento do descarte do leite e do custo do antibiótico. 
As maiores perdas associadas com a mastite clínica são as perdas de produção e o leite descartado com resíduos de antibiótico, ainda que, em algumas situações, a morte do animal seja a perda mais considerável.

Vacinação combinada com tratamento intramamário
O uso combinado de vacinação e tratamento intramamário em vacas com mastite crônica causada por S. aureus objetiva a estimulação do sistema imune, de forma a aumentar a capacidade da vaca de eliminação das infecções existentes.
Em um estudo foi avaliado o uso do tratamento intramamário com pirlimicina por 5 dias em conjunto com a vacinação com bacterina de S. aureus, em 50 vacas com mastite crônica causada de S. aureus. O vacas do grupo tratamento receberam 3 doses de vacina contra S. aureus aos 1, 15 e 21 dias do início do estudo e tratamento intramamário com pirlimicina por cinco dias (16o a 20o dia do estudo). As vacas do grupo controle não receberam nenhum tratamento. A avaliação do tratamento foi feita por coleta de amostras de leite para cultura microbiológica, durante 3 meses após o tratamento. Os resultados indicaram taxa de eliminação de 40% das infecções crônicas nas vacas tratadas, enquanto somente 9% das vacas do grupo controle apresentaram cura espontânea. 

Uso de cultura bacteriológica na fazenda
Programas de tratamento baseados em culturas bacteriológicas na própria fazenda têm sido avaliadas para diferenciar mais rapidamente o agente causador (Gram negativo ou positivo) da mastite clínica, e desta forma, direcionar o melhor protocolo de tratamento a ser usado. Nestes programas o uso de antimicrobianos é indicado para vacas com casos clínicos leves e moderados e com resultado de cultura positivo para microrganismos Gram positivos, enquanto casos com isolamento de Gram negativos ou sem crescimento não são tratados com antimicrobianos. Desta forma, busca-se reduzir o uso de antibióticos e diminuir os dias de descarte do leite.
 
Fonte: originalmente publicado em 
SANTOS, M. V., TOMAZI, T., GONÇALVES, J.L. Novas estratégias para o tratamento da mastite bovina In: IX Congresso Brasileiro Buiatria. 04 a 07/10/2011, Goiânia-GO. Vet. e Zootec. 2011 dez.18 (4 Supl. 3) -. v.18. p.131 – 137, 2011.
*Mestrando do Programa de Pós-graduação em Nutrição e Produção Animal, FMVZ-USP.
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Autores:
Marcos Veiga dos Santos
USP -Universidade de São Paulo
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Silvinho Veterinario
10 de septiembre de 2012
''Nestes programas o uso de antimicrobianos é indicado para vacas com casos clínicos leves e moderados e com resultado de cultura positivo para microrganismos Gram positivos, enquanto casos com isolamento de Gram negativos ou sem crescimento não são tratados com antimicrobianos.'' O que se usa nos Gram negativos?
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