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Conhecendo melhor a mastite clínica

Publicado: 9 de janeiro de 2013
Por: Letícia Caldas Mendonça, da Embrapa Gado de Leite
A mastite, inflamação da glândula mamária, é reconhecidamente a doença que mais causa prejuízos econômicos e produtivos aos rebanhos leiteiros em todo o mundo. A forma clínica da doença, aquela em que os sinais da infecção são visíveis, é uma das grandes preocupações do produtor de leite. Os prejuízos de um caso clínico de mastite já foram calculados de inúmeras maneiras e apresentam sempre resultados assustadores, devido à expressiva redução na produção de leite, gastos com medicamentos, com descarte de leite devido ao resíduo de antibiótico, descarte prematuro de vacas e até mesmo, devido à morte ocasionada por casos de mastite clínica aguda. Este artigo tem como objetivo trazer informações a respeito da mastite clínica, tratamento e controle.
 
Quanto aos sinais clínicos
A mastite clínica pode ser detectada pela inspeção visual diária do úbere, do leite e da vaca. Os sinais mais comuns observados podem ser divididos em três graus de severidade:
  • Grau 1: apenas alterações no leite, como coágulos, grumos, pus, sangue, coloração amarelada.
  • Grau 2: alterações no leite e também no úbere, que pode se apresentar inchado, dolorido e avermelhado.
  • Grau 3: além de alterações no leite e no úbere, a vaca apresenta sinais de comprometimento sistêmico, como febre, apatia, inapetência, desidratação e redução drástica da produção de leite. Estes últimos são chamados de sinais sistêmicos e ocorrem nos casos mais graves da doença.
 
Quanto à patogenia e prevalência
Os casos clínicos de mastite são causados, na maioria das vezes, por patógenos oriundos do ambiente, como Escherichia coli, Klebsiella sp. e estreptococos ambientais, como Streptococcus uberis e S. dysgalactiae. Mas as bactérias classificadas como contagiosas, como por exemplo, Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, também podem causar mastite clínica, originada de uma mastite subclínica crônica.
De maneira geral, apenas 5% dos casos de mastite se apresentam na forma clínica e somente 7% dos animais são responsáveis por mais de 50% destes casos; o que significa que poucos animais representam metade das ocorrências da doença clínica nos rebanhos leiteiros.
 
Quanto ao diagnóstico
Os casos clínicos de mastite são detectados através da inspeção do estado de saúde do úbere e do aspecto físico do leite. Esta detecção é realizada todos os dias, no momento da ordenha, utilizando o teste da caneca telada ou de fundo preto. Este teste permite a visualização de alterações no leite, como a presença de coágulos, sangue, pus e mudança na coloração normal do leite. No momento de realização do teste da caneca telada também é possível, e recomendável, uma inspeção física cautelosa do úbere.
Os estudos mais recentes demonstram que o diagnóstico microbiológico dos casos clínicos de mastite, ou seja, a pesquisa para isolamento da bactéria que está causando aquela infecção é importante para que o tratamento e o controle da doença obtenham sucesso. Isto porque as bactérias causadoras de mastite apresentam diferentes formas de adesão e causar danos (injúrias) no tecido mamário ou glândula mamária bem como diferentes respostas de tratamento para a mesma base (ou princípio ativo) de antibióticos.
O exame microbiológico da mastite clínica pode ser realizado em laboratórios comerciais. O exame da amostra de leite do quarto infectado antes do início do tratamento permite conhecer os agentes da mastite clínica em cada propriedade. Com esta informação em mãos, é possível traçar diferentes esquemas de tratamento, para diferentes situações. O veterinário ou técnico responsável pela sanidade do rebanho necessita desta informação para tomar providências baseando-se nas ocorrências, que poderão ser de origem contagiosa ou ambiental. Para cada uma delas, há formas definidas para tratamento, controle e prevenção.
Muitas propriedades leiteiras americanas e européias, e algumas brasileiras, realizam o exame microbiológico na própria fazenda, o que agiliza a tomada de decisão frente aquele caso ou aquele surto. Para isso, empregam-se kits rápidos de diagnóstico, que podem fornecer resultados em até 48 horas após a coleta da amostra de leite. Para isso, há necessidade da instalação de um pequeno laboratório na fazenda.
 
Quanto ao tratamento
O tratamento da mastite clínica, geralmente, é realizado com antibióticos intramamários assim que diagnosticado o caso, para que as chances de cura aumentem. Em alguns casos mais graves, a terapia de suporte, utilizando a fluidoterapia, antiinflamatórios e antibióticos sistêmicos podem auxiliar o tratamento.
É recomendável que cada propriedade tenha um protocolo de tratamento descrito, de acordo com o grau de severidade da doença. O protocolo de tratamento, os medicamentos a serem utilizados, o tempo de utilização, a dose e a via de aplicação devem ser prescritos sempre por um veterinário.
Diante da perspectiva de conhecer a bactéria causadora da doença de 24 a 48 horas após o diagnóstico, através do exame microbiológico na própria fazenda, estudos vêm sendo realizados para se conhecer o melhor tratamento para cada bactéria ou família de bactéria. Neste caso, o tratamento só é iniciado após o resultado do exame microbiológico, que indica qual bactéria está causando a infecção. Para casos de mastite clínica causada por E. coli, por exemplo, tais estudos têm testado a viabilidade do tratamento apenas de suporte, ou seja, fluidoterapia e antiinflamatórios como únicos medicamentos. Para casos clínicos causados por S. aureus ou para casos clínicos cujo exame microbiológico não apresentou nenhum crescimento, tem sido testada a viabilidade de não se aplicar nenhum tratamento, porque as taxas de cura entre os animais tratados e os não tratados têm sido semelhantes. De qualquer maneira, muitas pesquisas ainda necessitam ser realizadas quanto a esta possibilidade, de diagnóstico a campo e tratamento seletivo, de acordo com o resultado do exame microbiológico.
O importante, independente do resultado de tais pesquisas, é buscar aplicar nas propriedades leiteiras o manejo de ordenha adequado, de higiene dos utensílios e instalações, bem-estar dos animais e cuidados sanitários em geral, para diminuir os riscos de infecção das vacas. Melhor do que tratar a mastite clínica, com toda certeza, é preveni-la.
 
Referências bibliográficas
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PHILPOT, W. N.; NICKERSON, S. C. Mastitis: counter attack – a strategy to combat mastitis. Naperville: Babson Bros. Co. , 1991. 150 p.
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SANTOS, M. V.; FONSECA, L. F. L. Estratégias para controle de mastite e melhoria da qualidade do leite. Barueri (SP): Manole, 2006. 314 p. v. 1.
STEENEVELD, W.; GAAG, L.V.; BARKEMA, H.; et al. Probability distribution for the causal pathogen of clinical mastitis cases. Annual Meeting National Mastitis Council, 48., 2009, Charlotte. Proceedings… Charlotte: NMC, 2009. p. 132-133.
 
**O artigo foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILEite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite.
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Autores:
Letícia Caldas Mendonça
Embrapa
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