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Aditivos Anti-Micotoxinas Brasil

Brasil desafia aos Aditivos Anti-Micotoxinas

Publicado: 7 de dezembro de 2009
Por: Alberto Gimeno (Consultor técnico de SPECIAL NUTRIENTS, INC. - USA)
 
Entre os métodos físicos, químicos e biológicos de que dispomos para o combate contra as micotoxinas (CAST, 2003; Gimeno & Martins, 2006), temos o uso dos Aditivos Anti-Micotoxinas (AAM). A maior parte deles exercem dentro do animal, um efeito de quimio-adsorção e devem de ter capacidade para unir-se de uma forma eficaz às micotoxinas e bloqueá-las no trato gastrointestinal, dando lugar a compostos estáveis e irreversíveis que posteriormente são eliminados pelas fezes. Desta forma a bio-disponibilidade da micotoxina vê-se reduzida, evitando os efeitos indesejáveis que esta produz. Estes produtos são normalmente denominados, adsorventes de micotoxinas mas que se englobam na família dos AAM.
Outros AAM atuam com processos enzimáticos e/ou bacterianos, dentro do organismo animal, e tendem a bio-transformar as micotoxinas em derivados destas, os quais podem ser, em geral, e não sempre, menos tóxicos ou não tóxicos.
É importante ter cuidado com o uso destas enzimas e/ou bactérias bio-transformadoras já que se deve avaliar exatamente quais são e quais seus rendimentos de bio-transformação, visto que, por ação destas enzimas, a micotoxina zearalenona, por exemplo, se pode transformar nos isômero alfa e beta-zearalenol, dos quais o alfa-zearalenol é de 3 a 4 vezes mais estrogênico que a zearalenona
No rúmen da vaca e de outros ruminantes, esta bio-transformação levada a cabo pelo fluído ruminal e a microflora protozoária, sucede constantemente e a zearalenona degrada-se em aproximadamente um 90% convertendo-se em alfa e beta-zearalenol
Para as micotoxinas tricotecenos, estes processos de bio-transformação devem ser irreversíveis e chegar até a forma química final DEEPOXI, que é a forma não tóxica. Se ficarem resíduos dos compostos intermédios que se formam nestas bio-transformações, estes resíduos podem ser tanto ou mais tóxicos que a micotoxina original. Por conseguinte e quando o objetivo é que se efetue essas bio-transformações, deve ser assegurado que não ocorram riscos de toxicidade para os animais nem para os humanos, visto que alguns desses compostos intermédios podem ficar como resíduos tóxicos em tecidos animais comestíveis (fígado, rins, músculo).
Nos países onde não se utilizem antibióticos no alimento ou na água de bebida, não há problema em utilizar bactérias benéficas que bio-transformem as micotoxinas. No caso de se utilizarem antibióticos no alimento ou na água de bebida, é muito importante efetuar uma análise da dose mínima inibitória do antibiótico contra a bactéria benéfica utilizada, para assim se assegurar de que ela não se destruiu. Isto costuma suceder freqüentemente com bactérias benéficas, perdendo assim o investimento efetuado no produto por falta de efetividade contra as micotoxinas em questão e conseqüentemente acarretando com os problemas nos animais. Também é importante ter em consideração que estas enzimas e/ou bactérias biotransformadoras não são normalmente termorresistentes e podem ocorrer perdas importantes das mesmas nos processos de granulação e expander.
Existem atualmente uma grande variedade de AAM e faz-se um uso indiscriminado dos mesmos. Muitas vezes põe-se em causa a efetividade e espectro de ação de alguns deles como AAM e inclusive, alguns absorvem certos nutrientes.
Também dentro dos AAM há um grupo que se considera ter o efeito de um AAM, mas o que fazem simplesmente é mascarar e/ou reduzir os efeitos secundários causados pelas micotoxinas, como por exemplo melhorar a resposta do sistema imune e/ou parâmetros produtivos, mas realmente não fazem nada para proteger o órgão que a micotoxina está atuando o qual se evidencia facilmente através de uma correta análise patológica e histopatológica.
É certo que ainda há que estudar e melhorar muito a efetividade destes AAM, no entanto hoje em dia, temos em alguns deles uma arma de luta contra as micotoxinas que dantes não tínhamos.
O Brasil propôs-se e acho que conseguiu, estabelecer alguns protocolos de avaliação destes AAM como aditivos eficientes e que possam ser usados com certas garantias para a alimentação animal
 
1.- PROTOCOLOS ESTABELECIDOS E PROPOSTOS NO BRASIL PARA AVALIAR OS AAM.
Segundo a Portaria n m; 13 de 24 de Maio de 2006, publicada no Diário Oficial dá União de 25-05-2006, secção 2, pagina 6 no Brasil, foi constituído um Grupo de Trabalho sobre micotoxinas em produtos destinados à alimentação animal (ver o link referido na bibliografia), segundo a resolução do Ministro de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no uso da atribuição que lhe confere o art. 87, parágrafo único, inciso II da Constituição e que consta do Processo nº 21000.005214/2006-46.
As Instituições membro deste grupo de trabalho foram:
Ministério dá Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA
Instituto Adolfo Lutz – IAL
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA
Universidade de São Paulo – USP
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
Em cada uma dessas Instituições estiveram integradas uma série de pessoas responsáveis pelo desenvolvimento do tema em questão (ver link).
Dentro das várias atribuições (ver link) com respeito as micotoxinas e que foram conferidas ao Grupo de Trabalho, uma delas consistiu no “Reavaliação do uso de adsorventes de micotoxinas como aditivo autorizado na alimentação animal”. Posteriormente e em relação ao termo “adsorvente de micotoxinas” foi proposto ser substituído pela denominação geral de “Aditivos Anti-Micotoxinas (AAM)”, deixando bem claro que essa denominação incluía os produtos que, adicionados ao alimento para animais, eram capazes de adsorver, inativar, neutralizar ou bio-transformar as micotoxinas.
Por ser muito extenso, não vou expor o conteúdo completo desses protocolos, no entanto tentarei dar um “breve” detalhe dos mesmos e da forma mais clara possível.


1.1.- PROTOCOLOS PARA AVALIAR OS AAM
1.1.1.- Ensaios “in vitro”
1.1.1.2.- Devem ser apresentados resultados de ensaios “in vitro” demonstrando a capacidade anti-micotoxina, com um critério de controle de qualidade do produto, com pH 3 simulando esta capacidade no meio suco gástrico e com pH 6 simulando a mesma no meio suco intestinal. Os meios serão sucos gástrico e intestinal patrões USP (Farmacopeia Americana). Deve ser indicado o método utilizado para esses ensaios.
Para cada pH, preparam-se 5 grupos de 5 tubos de ensaio por grupo com uma percentagem da dose máxima de AAM recomendada pelo fabricante de 0, 25, 50, 75 e 100% em cada tubo, respectivamente, e umas concentrações de micotoxinas tais como aflatoxina B1(AFB1), zearalenona (ZEN), ocratoxina A (OTA), fumonisina B1 (FB1) e deoxynivalenol (DON) de 1,0; 1,0; 1,0; 2,5 e 2,5 ppm (miligramas/Kg), respectivamente, e em cada um dos tubos. Deve haver um mínimo de 3 repetições por tubo e após as análises pertinentes das micotoxinas em cada um dos tubos, comprovar-se-á a ação Anti-Micotoxinas em função da dose de inclusão do AAM no meio e comparando os resultados com os do tubo que não contém AAM.
Neste processo e como uma pratica habitual, costuma-se manter a micotoxina em contacto com o AAM durante 1 hora a 37ºC e com agitação constante.
Os resultados “in vitro” do AAM em questão, indicarão só um início da eficiência do mesmo, mas não serão nem muito menos conclusivos para a aprovação final deste. Serão só orientativos, faltando pois, os resultados dos ensaios “in vivo”.
 
1.1.2.- Ensaios “in vivo”.
1.1.2.1.- Utilizam-se 4 grupos de animais. Cada grupo terá como alimento:

Grupo 1: alimento composto controle (não contaminado).
Grupo 2: alimento composto não contaminado + AAM na dose máxima indicada pelo fabricante.
Grupo 3: alimento composto contaminado com a micotoxina especifica para o ensaio e na concentração indicada em 1.1.2.2.
Grupo 4: alimento composto contaminado com a micotoxina especifica para o ensaio e na concentração indicada em 1.1.2.2 + AAM na dose máxima indicada pelo fabricante.
Para aves, haverá um mínimo de 6 unidades experimentais com 10 aves cada uma.
Para suínos, bovinos, cavalos, cães e gatos haverá um mínimo de 6 animais por cada uma das 6 unidades experimentais.
1.1.2.2.- A seguir indicaremos as micotoxinas selecionadas, a concentração das mesmas a incorporar no alimento composto como contaminantes e os parâmetros a estudar e ter em consideração segundo os efeitos tóxicos destas micotoxinas.
a.- Para aflatoxinas B1, B2, G1 e G2. O nível na dieta será de 1-3 ppm (mg/Kg) de aflatoxinas totais e os parâmetros a avaliar serão: alterações do desempenho (ganho diário de peso vivo, consumo diário de alimento composto e conversão alimentar); alterações de proteínas séricas e alterações em enzimas hepáticas; alterações do peso relativo do fígado e dos rins.
De preferência, a estirpe de Aspergillus flavus ou/e parasiticus utilizada para a contaminação do alimento, deverá ser tal, que produza 84% de aflatoxina B1, aproximadamente. Portanto a aflatoxina B1 será a predominante dentro desses valores de contaminação de 1-3 ppm.
b.- Para aflatoxina B1. O nível no concentrado para animais de produção leiteira deverá ser de 5 ppm e o parâmetro avaliado será o resíduo de aflatoxina M1 no leite.
c.- Para zearalenona. O nível na dieta será de 0,25-2 ppm e os parâmetros a serem verificados serão: alterações na vulva e alterações do comprimento e peso do trato reprodutivo das fêmeas.
d.- Para ocratoxina A. O nível na dieta será de 2-4 ppm e os parâmetros a estudar serão: alterações no desempenho (ganho diário de peso vivo, consumo diário de alimento composto e conversão alimentar); alterações de proteínas séricas e ácido úrico; alterações do peso do fígado e rins.
e.- Para deoxynivalenol. O nível na dieta será de 5-15 ppm e os parâmetros avaliados serão: alterações do desempenho (ganho diário de peso vivo, consumo diário de alimento composto e conversão alimentar); alterações de proteínas séricas.
f.- Para fumonisina B1. O nível na dieta será de 50-200 ppm e os parâmetros a estudar serão: alterações do desempenho (ganho diário de peso vivo, consumo diário de alimento composto e conversão alimentar); alterações de proteínas séricas; alterações da relação esfinganina/esfingosina; alterações no peso relativo do fígado e os pulmões em porcos.

1.1.2.3.- Comparam-se os resultados obtidos para cada uma das dietas com os resultados da dieta controle e efetuar-se-á um estudo estatístico com todos os parâmetros inerentes ao estudo. Dever-se-á indicar qual foi o método estatístico utilizado e expor-se-ão as conclusões pertinentes aos resultados obtidos nos ensaios.
1.1.2.4.- Outros resultados como as análises de resíduos de dioxinas, chumbo, cádmio, mercúrio e arsênico nos AAM contendo aluminosilicatos ao igual que o de Salmonella sp (contaminantes químicos e microbiológicos) deverão ser apresentados e terão que estar de acordo com os limites indicados nas diferentes diretivas da União Européia.
Para os AAM que não contenham aluminosilicatos, apresentar-se-ão só as análises de Salmonella sp.
 
COMENTÁRIOS

Outras atribuições concernentes ás micotoxinas foram conferidas ao Grupo de Trabalho anteriormente mencionado, tais como: avaliar a situação brasileira quanto aos níveis de micotoxinas nos produtos destinados à alimentação animal, com foco na segurança dos alimentos e definir critérios para o controle de micotoxinas de interesse em produtos destinados à alimentação animal.
É evidente que tudo o exposto até agora, pode ser criticado e sujeito a melhoras e modificações. No entanto acho que acima de tudo, deve ser realçado de uma forma muito positiva e merecem os parabéns o governo do Brasil e todos os membros do Grupo de Trabalho anteriormente mencionado, pelo mérito conseguido nesta trabalho de luta contra as micotoxinas por parte de uns AAM que realmente funcionem.
Acho que isto pode ser um exemplo a seguir por outros países!
 
BIBLIOGRAFÍA
CAST (Council for Agricultural Science and Technology) (2003). Mycotoxins: Risks in Plant, Animal, and Human Systems; Council for Agricultural Science and Technology, Ames, Iowa, USA; Task Force Report nº 139, January 2003, pp. 1-199.    
Gimeno, A. and Martins, M.L. (2006). Mycotoxins and Mycotoxicosis in Animals and Humans. Special Nutrients, Inc. USA (Ed.). Victor Mireles Communications, Mexico City (Mexico). pp. 1-127.         
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Alberto Gimeno
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Alfredo Navarro de Andrade
29 de marzo de 2010
Com relação ao comentário do Sr. Alberto Gimeno: “Também é importante ter em consideração que estas enzimas e/ou bactérias biotransformadoras não são normalmente termorresistentes e podem ocorrer perdas importantes das mesmas nos processos de granulação e expander.” Não só como concordamos como gostaríamos de acrescentar que para rações peletizadas, existem no mercado cepas de leveduras vivas (Saccharomyces cerevisiae) que são resistentes à temperatura de peletização (até 92C). No caso de rações extrusadas o uso de paredes celulares, tem sido de grande sucesso no adsorção das principais micotoxinas de importância economica no Brasil (ZEA, DON, AFB1 e FB1). Várias cepas de leveduras vivas, bem como suas paredes celulares tem sido, comprovadamente, tanto in vitro como in vivo, eficientes adsorventes de micotoxinas, sem adsorver outros aditivos de importância nutricional.
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ALBERTO GIMENO
Alberto Gimeno
29 de marzo de 2012

Apreciado Dr.Will,

Obrigado pelo seu comentario.

Gimeno

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Will Oliveira
29 de marzo de 2012

Muitíssimo informativo!!!

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ALBERTO GIMENO
Alberto Gimeno
28 de abril de 2010
Caro Prof. Gonçalves, Não tenho informação acerca da temperatura ambiente de um biodigestor para o controle que pretende. Cumprimentos. Gimeno
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Goonçalves Donizetebaia
14 de abril de 2010
Obrigado pelo artigo. Precisamos exigir mais fiscalização das rações no mercado, controle de estocagem até o conssumo. A recombinação de enzimas muitas das vezes resulta em outra com as toxidades maior do que o permitido. atenciosamente, gonçalves
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ALBERTO GIMENO
Alberto Gimeno
30 de marzo de 2010
Apreciado Sr. Alfredo, Obrigado pela sua informação. Eu só quis fazer uma chamada de atenção para não esquecer de perguntar à firma detentora do AAM se as suas enzimas ou bactérias biotransformadoras são termorresistentes e a quais temperaturas. Normalmente as temperaturas máximas nos processos de granulação podem ser de 70-90ºC, mas nos processos de expander as temperaturas podem oscilar entre 120 a 140ºC (depende do rendimento) na cabeça do expander. Você fala de extrusão, a que temperatura ?? Cumprimentos Gimeno
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Goonçalves Donizetebaia
30 de marzo de 2010
Ao Alberto gimeno, sou biólogo,você tem algum artigo sobre a temperatura do ambiente de um biodigestor para controle das bacterias biotransformadora* temperatura ideal. Vou montar um biodigestor na minha propriedade. Atenciosamente Grato Profº Gonçalves
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ALBERTO GIMENO
Alberto Gimeno
24 de marzo de 2010
Estimados leitores e colaboradores do Forum, Incluí no meu artigo o seguinte parágrafo que acho importante: “Também é importante ter em consideração que estas enzimas e/ou bactérias biotransformadoras não são normalmente termorresistentes e podem ocorrer perdas importantes das mesmas nos processos de granulação e expander.” Cumprimentos. Gimeno
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