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Aujeszky Doença Suínos

Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina

Publicado: 28 de junho de 2012
Por: Nelson Morés, Médico Veterinário, MSc.; Armando Lopes do Amaral, Biólogo, MSc.; Lauren Ventura, Médica Veterinária, Parceria ACCS/AINCADES; Janice Reis Ciacci Zanella, Médica Veterinária, Ph.D.; Virgínia Santiago Silva ,Médica Veterinária, Ph.D.

Introdução

A Doença de Aujeszky (DA) ocorre no Brasil desde 1912 e em Santa Catarina (SC) desde 1984, com impacto econômico anual à atividade suinícola Estadual, estimado em 2001, em R$ 931.224,00. É causada por um herpesvírus que pode provocar sintomas nervosos, respiratórios e reprodutivos em várias espécies animais e, em suídeos, pode também estabelecer latência em gânglios nervosos sem apresentar sintomas. Suínos com forma latente da infecção são os mais perigosos, porque não apresentam sintomas e quando em contato com outros suínos não infectados, podem transmitir a doença. Nos rebanhos positivos, a DA pode ser controlada pelo uso de vacinas. No Brasil a vacina utilizada e aprovada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) desde 1995, é uma vacina inativada e deletada para a glicoproteína E (gE), a qual permite diferenciar animais infectados com vírus de campo daqueles vacinados, através de um teste sorológico utilizando um ELISA diferencial. Em abril de 2001, a Embrapa Suínos e Aves, em parceria com a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agropecuário de SC – Cidasc, Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de SC – Sindicarnes-SC, Associação Catarinense de Criadores de Suínos – ACCS, Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de SC e com a Secretaria Estadual de Defesa Agropecuária do MAPA, iniciaram um programa com o objetivo de erradicar a DA do rebanho suíno do Estado de SC. Para dar suporte técnico ao programa foi constituído um Comitê Técnico composto por representantes das instituições parceiras.
 

Identificação dos rebanhos incluídos no programa

A estratégia global utilizada para o programa de erradicação foi atuar inicialmente nas granjas sabidamente positivas para a DA, identificadas em trabalho anterior, como sendo as granjas que tiveram surto da doença e/ou utilizaram vacina contra a DA a partir de 1990. Isto só foi possível porque no Brasil a DA é uma doença de notifica-ção obrigatória e a comercialização da vacina é controlada pelo MAPA. Com estas informações identificaram-se as granjas que teoricamente estariam infectadas. Para comprovação dos rebanhos positivos e estabelecimento da soropre-valência em cada rebanho, foram utilizadas as seguintes estratégias:
  1. sorologia para o vírus da doença de Aujeszky (VDA) nos rebanhos que tiveram surto da doença nos últimos 10 anos ou que usavam a vacina contra DA;
  2. sorologia para o VDA de rebanhos cujas informações epidemiológicas indicavam a possibilidade de estarem infectados;
  3. sorologia para o VDA de rebanhos cuja rastreabilidade indicou a aquisição de animais de granjas infectadas;
  4. sorologia para o VDA de rebanhos locali-zados num raio de 2.500 m de um rebanho com surto da doença.
Além disso, os rebanhos que tinham surto da doença eram imediatamente identificados, isola-dos e incluídos no programa.
 

Amostragem de soros

Para colheita dos soros, utilizou-se uma amos-tragem de reprodutores por granja, considerando prevalência estimada de 5% e nível de confiança de 95%.
 

Testes sorológicos

utilizados Foram usados dois testes: o teste ELISA gE dife-rencial nos rebanhos vacinados contra a DA e o teste ELISA não diferencial nos rebanhos não vacinados. Nessa etapa, o objetivo dos testes foi identificar rebanhos com animais soropositivos para o VDA, para serem incluídos no programa de erradicação.
 

Protocolos de erradicação

Para erradicação da infecção pelo VDA das granjas de suínos, utilizaram-se dois protocolos:
a) Protocolo de despovoamento total: Esse procedimento foi utilizado em granjas de suínos que apresentavam soroprevalência maior que 10% para o VDA ou presença de surto da DA. O despovoamento desses rebanhos foi gradativo, com venda dos animais para abate e aproveita-mento econômico: as porcas com mais de 40 dias de gestação eram eliminadas somente após o parto e desmame das leitegadas; os machos eram abatidos após a cicatrização da castração e os leitões após os 60 dias de idade. Todos os rebanhos incluídos neste protocolo tiveram o plantel de reprodutores vacinados contra a DA, no esquema de uma dose a cada quatro meses. Em janeiro e fevereiro de 2003, para redução rápida da circulação do VDA nas granjas, realizou-se abate emergencial de todos os suínos ainda existentes nas granjas incluídas no proto-colo de despovoamento. Os proprietários das granjas despovoadas tiveram direito a indeniza-ção do lucro cessante baseada na produtividade estimada dos rebanhos, por um período de 10 meses (para produtores de leitões) ou 13 meses (produtores em ciclo completo), incluindo o período de 30 dias de vazio sanitário. As granjas despovoadas foram submetidas a lavagem com-pleta, seguida de duas desinfecções e ficaram em vazio sanitário por um período mínimo de 30 dias. Somente após esses procedimentos as granjas foram liberadas pelo veterinário oficial para repovoamento com suínos oriundos de Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas (GRSC). As granjas repovoadas foram monito-radas quanto a presença do VDA através de duas sorologias por amostragem, sendo a primeira após 60 dias do ingresso dos animais e a segunda 6 meses após.
b) Protocolo de erradicação por sorologia: Esse protocolo foi aplicado em granjas onde a sorolo-gia inicial para o VDA indicou soroprevalência menor ou igual a 10% no plantel de reprodutores ou na terminação. O protocolo utilizado consistiu na vacinação de todos os reprodutores presentes nas granjas, no esquema de uma dose a cada quatro meses, com vacina deletada para a gE, exames sorológicos a cada 60 dias em 100% dos reprodutores e imediata eliminação dos posi-tivos. Nos rebanhos de ciclo completo, além da sorologia dos reprodutores, foi realizada também sorologia por amostragem dos suínos de termina-ção com mais de 60 kg. As granjas somente foram consideradas livres da infecção pelo VDA após duas sorologias consecutivas negativas em 100% dos reprodutores e, no caso de granjas em ciclo completo, também da amostragem dos suínos de terminação, seguidas de duas monitorias por amostragem, também negativas, realizadas a cada 6 meses.
Posteriormente, em 2004, com objetivo de iden-tificar rebanhos ainda infectados pelo VDA, fo-ram realizadas coletas de sangue de reprodutores descartados em 5 abatedouros do Estado, locali-zados nas regiões de maior risco da infecção. Os animais soropositivos para o VDA foram rastreados e todos os reprodutores do rebanho de origem foram submetidos a sorologia para o VDA para decidir o protocolo de erradicação a ser adotado.
Em 204 granjas despovoadas, foi aplicado um questionário de investigação epidemiológica. O questionário continha perguntas relacionadas com o sistema de organização da produção, sistema de criação utilizado, origem dos suínos no repovoamento, uso de vacina contra a DA, medidas de biossegurança implementadas após o vazio sanitário, período de vazio sanitário realizado e uma avaliação dos produtores quanto aos trabalhos técnicos realizados e a quanto a satisfação dos produtores quanto as indenizações feitas.
Também, foi realizado um estudo dos investimentos financeiros efetuados até maio de 2005.
 

Resultados obtidos e comentários

Foram avaliados 1.022 rebanhos, envolvendo 81.110 reprodutores suínos (Tabela 1): em 239 rebanhos o VDA foi erradicado por despovoamento, em 81 por sorologia diferencial para o VDA e em 667 rebanhos a sorologia inicial para o VDA foi negativa e, portanto, foram conside-rados livres da infecção.
Tabela 1. Número de granjas e matrizes incluídas no programa de erradicação da doença de Aujeszky em Santa Catarina
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 1
Na Tabela 2 está descrita a situação atual das granjas que utilizaram o protocolo de despovoa-mento total, seguido de repovoamento. Das 239 granjas despovoadas, 170 foram consideradas definitivamente livres do VDA porque apresentaram as duas monitorias sorológicas negativas ou passaram a produzir apenas suínos de terminação com vazio sanitário entre cada lote; 06 apresentaram uma sorologia negativa para o VDA após o repovoamento e aguardam a segunda monitoria, duas foram recentemente repovoadas e aguardam as monitorias sorológicas, 59 ainda não repovoaram porque desistiram temporariamente da atividade e duas desistiram defini-tivamente da produção de suínos. Dentre as granjas despovoadas, quatro se recontaminaram e, dessas, uma foi incluída no protocolo de erra-dicação por sorologia diferencial e três foram novamente despovoadas. Nas quatro granjas onde houve recontaminação com o VDA, a investigação epidemiológica indicou que no repovoamento foram alojados suínos oriundos de rebanhos com situação sanitária desconhecida, desrespeitando as recomendações do comitê técnico. Esse procedimento provavelmente foi a causa da reinfecção. Por isto, os três rebanhos foram novamente despovoados, sem indenização aos proprietários. Ademais, a presença de subpopulações não vacinadas, tanto nos rebanhos como em regiões de risco, são as principais responsáveis pelas reinfecções, especialmente em áreas com população densa de suínos ou com transporte de leitões para engorda.
Tabela 2. Situação das granjas que foram despovoadas devido a presença do vírus da doença de Aujeszky
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 2
Nos 5 abatedouros localizados nas regiões de risco, foram colhidas 619 amostras de soro de reprodutores de descarte, provenientes de 159 granjas. Destas, apenas duas granjas apresen-taram um animal soropositivo cada. Todos os reprodutores dessas duas granjas foram avalia-dos por sorologia. Uma delas apresentou sorolo-gia negativa para o VDA em 100% dos reprodu-tores e foi considerada livre; a outra apresentou um animal soropositivo e foi incluída no proto-colo de erradicação por sorologia.
Das 81 granjas incluídas no protocolo de erradicação por sorologia, 43 estão definitiva-mente livres da infecção, pois já cumpriram com todas as etapas, 27 tiveram duas sorologias negativas em 100% dos reprodutores e estão em monitoria sorológica, 02 apresentaram uma sorologia 100% negativa e em 09 granjas o protocolo não foi implementado na sua totalidade (cinco desistiram da atividade suinícola e quatro despovoaram as granjas por outras razões em diferentes etapas de implementação do protocolo). Nas 72 granjas onde o protocolo de erradicação foi implementado, foram necessárias a realização de duas a sete sorologias em 100% dos reprodutores, dependendo da granja, com eliminação dos animais soropositivos, para torna-las livres do VDA.
O último caso de infecção pelo VDA em SC ocorreu em julho de 2004. O programa de erradicação da DA continua, com ações direcionadas a educação sanitária e vigilância epidemiológica. Neste momento, após o saneamento das granjas infectadas pelo VDA no Estado, a vigilância epidemiológica deve ser contínua, para disciplinar o movimento e a introdução de suínos nos rebanhos e para identificar possíveis rebanhos com infeção latente ou novos casos da DA. Vale ressaltar que nas regiões de alto risco, com a eliminação da doença, aumenta a susceptibilida-de dos animais ao VDA, necessitando muita atenção com medidas de biossegurança.
Programas de erradicação do VDA, baseados no despovoamento/repovoamento ou vacinação as-sociada a sorologia diferencial com eliminação dos animais positivos, têm tido sucesso em várias regiões ou países do mundo, constituindo-se em base essencial para o controle da doença.
Na época em que este programa de erradicação foi implementado (abril de 2001), o estado de SC tinha cerca de 17.000 rebanhos suínos e foram identificados 318 rebanhos com suínos soroposi-tivos para o VDA, o que significa taxa de 1,87% de rebanhos positivos. Após o saneamento des-tes rebanhos, o Estado passou a ser reconhecido como zona provisoriamente livre da infecção. A meta deste programa é tornar o Estado de SC definitivamente livre da DA, seguindo as orienta-ções da Organização Mundial de Sanidade Animal.
Na Tabela 3 estão descritos os sistemas de criação usados pelos produtores antes e após o despovoamento. Dos 204 produtores nos quais o questionário foi aplicado, 26% ainda não haviam repovoado suas granjas com suínos. A crise que atingia a suinocultura na época em que as gran-jas foram despovoadas, provavelmente, retardou ou impediu o repovoamento das mesmas. Vale salientar que apenas uma granja não cumpriu o tempo mínimo de 30 dias de vazio sanitário, conforme recomendado. Após o repovoamento das granjas houve migração de alguns produtores independentes para a criação de suínos no siste-ma integração com agroindústrias, com mudan-ças importantes no sistema de produção adota-do. Houve redução de produtores em ciclo completo e em unidades produtoras de leitões até a saída da creche, os quais migraram para outros sistemas, como foi o caso do terminador independente, terminador em parceria e unidade de produção de leitões até o desmame. Um sistema adotado por quatro produtores entrevistados foi o sistema misto, associando a produção de leitões junto com a aquisição de leitões para terminação, oriundos de outros rebanhos com situação sanitária desconhecida. Esse modelo não é tecnicamente indicado, considerando a possibilidade de disseminação de agentes infeciosos, incluindo o VDA.
Das 151 granjas que repovoaram, 9,8% alojaram entre um e 12 suínos originários de granjas com situação sanitária desconhecida, representando um risco para o controle da doença, uma vez que a principal forma de disseminação do VDA é através do comércio de suínos latentemente. Apenas 6,4% das granjas continuaram a usar a vacina contra a DA de acordo com o programa e sob orientação do serviço de defesa sanitária oficial.
Tabela 3. Sistema de criação utilizado nas granjas que erradicaram o vírus da doença de Aujeszky por despovoamento
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 3
Antes do repovoamento, várias produtores preo-cupados com a manutenção da saúde dos seus rebanhos, implementaram medidas de biossegu-rança para proteger os rebanhos de problemas sanitários, porém muitos não o fizeram, demons-trando certa insensibilidade às questões sanitá-rias (Tabela 4). A existência de carregador/des-carregador de suínos distantes das instalações onde estão os animais, é de extrema importância na manutenção da saúde do rebanho, pois os caminhões transportadores de suínos são consi-derados de alto risco no que diz respeito a possi-bilidade de disseminação de doenças, especial-mente quando chegam nas granjas carregados com suínos e encostam o caminhão nas instala-ções.
Tabela 4. Medidas de biossegurança implementadas pelos produtores após o despovoamento das granjas
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 4
Nas Tabelas 5 e 6 estão as respostas dos produtores quanto ao programa de erradicação da DA adotado. O trabalho de orientação técnica realizado e o sistema de indenização (pagamento do lucro cessante e subsídio à aquisição de suínos no repovoamento de granjas independen-tes) utilizado foi considerado de bom a ótimo para 91,6% e de razoável a satisfeito para 83,8% dos produtores, respectivamente. Estas informações são importantes, visto que a partici-pação e o consentimento do produtor é essencial em qualquer programa de controle de doenças.
Tabela 5. Avaliação dos produtores quanto ao trabalho e orientações técnicas realizados na granja pelo programa de erradicação do vírus da doença de Aujeszky
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 5
 
Tabela 6. Nível de satisfação dos produtores quanto a forma de indenização realizada, devido ao despovoamento das granjas
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 6
 

Recursos financeiros investidos

Para o despovoamento dos rebanhos infectados pelo VDA, foram gastos 4.282.777,70 kg de suíno ao preço de abate Sindicarnes-SC, sendo 3.858.997,70 kg relativos indenização do lucro cessante e 423.800,00 kg para subsídio na aquisição de leitoas e machos no repovoamento das granjas independentes (Tabela 7).Observa-se que os maiores gastos foram com produtores integrados à agroindústrias ou cooperativas por possuírem mais reprodutores nos plantéis, embo-ra o maior número de produtores eram autôno-mos. Verifica-se também que o VDA infectou maior número de granjas produtoras de leitões do que de ciclo completo. Isto pode ter relação com o intenso movimento de caminhões para carregamento dos leitões (geralmente uma vez por semana em cada granja), que muitas vezes carrega leitões de várias granjas na mesma carga, facilitando a disseminação do VDA e outros agentes infeciosos.
O total de recursos financeiros investidos no programa foi de R$ 8.698.271,84: sendo R$ 8.380.544,84 proveniente do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Suinocultura, para indeniza-ções aos produtores, realização de exames labo-ratoriais, aquisição emergencial de vacina contra a DA e contratação de um veterinário; R$ 83.000,00 da Embrapa, para realização de exames laboratoriais, aquisição de insumos laboratoriais, despesas com a coordenação do programa e combustível; e R$ 234.727,00 da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvol-vimento Rural de SC e CIDASC para combus-tível, desinfetantes, mão-de-obra para colheita de sangue, realização de visitas de investigação epidemiológica, acompanhamento no despovoa-mento e repovoamento dos rebanhos, vigilância e vistoria dos rebanhos infectados (Tabela 8). Além disso, deve-se considerar outros gastos não computados realizados pelas agroindústrias e cooperativas suinícolas para deslocamentos às granjas, mão de obra para colheita de sangue e visitas às propriedades.
Tabela 7. Quantidade de kg de suínos gastos na indenização do lucro cessante e com subsídios pago aos produtores independentes, no programa de erradicação do vírus da doença de Aujeszky em Santa Catarina, com granjas produtoras de leitões com ciclo completo
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 7
 
Tabela 8. Recursos financeiros aplicados para o desenvolvimento do Programa de Erradicação da doença de Aujeszky até dezembro de 2004
Programa de Erradicação da Doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina - Image 8
 

Benefícios advindos do programa

Este programa beneficiou toda a suinocultura catarinense e nacional. Com o avanço do progra-ma de erradicação da DA em SC, o Estado criou condições favoráveis para a negociação de car-caças suínas e derivados com países impor-tadores, principalmente com o mercado russo. A exemplo disso, as exportações brasileiras de carne suína duplicaram de volume exportado do ano de 2001 para 2004. Ademais, a comerciali-zação de suínos de SC para outros estados aumentou em 38,3% no período de 2003 - 2004. Outros benefícios obtidos para o setor são a diminuição da ocorrência de surtos de DA, com diminuição dos gastos com vacinas para sua prevenção e, conseqüente, redução dos custos de produção e aumento da produtividade dos rebanhos. Vale lembrar que segundo dados esti-mados em 2001, a Doença de Aujeszky (DA) ocasionava impacto econômico anual de R$ 931.224,00 à atividade suinícola de Santa Cata-rina. Esse programa, também está servindo de base para implementação de programas esta-duais de erradicação da DA, já implementados em alguns deles, e subsidiou a formulação do Programa Nacional de erradicação da DA, atualmente em fase final de elaboração.
 

Conclusões

Os protocolos de erradicação do VDA por despovoamento de granjas, seguido de vazio sanitário e repovoamento com animais livres do vírus ou por vacinação de plantéis contra o VDA associado a sorologia diferencial a cada 60 dias e eliminação dos reprodutores soropositivos, junto com ações de educação sanitária e vigilância epidemiológica, foram eficientes na eliminação do VDA de rebanhos infectados.
De modo geral, os produtores ficaram satisfeitos com os resultados do programa. Após o despo-voamento muitos deles não repovoaram suas granjas, provavelmente devido a crise da suino-cultura que afetou o setor até o primeiro semes-tre de 2004. Outros produtores aproveitaram a situação e melhoraram a biossegurança das suas granjas, e alguns mudaram de sistema de criação de suínos. Porém, quase 10% dos produtores ainda não estavam suficientemente esclarecidos a respeito da forma de transmissão do vírus da DA. Durante o repovoamento estes produtores alojaram animais de origem sanitária desconhe-cida, junto com os animais do plantel e não implementaram medidas de biossegurança na granja.
 

Recomendações

Na maioria das vezes, o vírus da DA entra num rebanho "caminhando no abrigo de quatro patas", ou seja, através de animais comprados de rebanhos infectados com o VDA. Isto ocorre em mais de 90% das vezes. É o caso da compra de leitoas ou machos para reprodução, vindos de granjas não certificadas. Outra forma de introdu-ção do VDA no rebanho, é através de leitões ganhos em festas, torneios e outros eventos. A compra de leitões para engorda que são introduzidos no plantel ou a entrada de caminhões transportadores de suínos que encostam nos galpões de produção, por falta de embarcadouro, são também fortes fatores de risco.
Granjas, regiões ou Estados que desejam erradi-car o VDA dos rebanhos suínos podem utilizar um dos protocolos utilizados neste trabalho, dependendo da prevalência da infecção, que de-verá ser previamente conhecida. Para o sucesso de um programa regional ou estadual é essencial dispor de um sistema de indenização para os proprietários dos rebanhos infectados. Quando optar pelo protocolo de erradicação por sorologia diferencial, é fundamental a vacinação de todos os reprodutores dos rebanhos e dos animais de reposição com vacina contra o VDA que permite diferenciar animais infectados, imediata remoção dos reprodutores soropositivos, não ampliação do plantel até a completa eliminação do vírus e implementação de medidas de biossegurança. Os animais de reposição devem ser vacinados duas vezes num intervalo de 15 a 20 dias antes de entrar em contato direto com o rebanho.
Ademais, para evitar riscos de contaminação/ recontaminação com o VDA recomenda-se:
  • Comprar suínos de reposição somente de granjas certificadas (GRSC), pois elas têm garantia do MAPA de serem livres da Doença de Aujeszky;
  • Não introduzir no rebanho leitões de engorda ou aqueles ganhos em festas ou torneios;
  • Evitar criar na propriedade suínos tipo banha, de origem desconhecida e sem teste, com objetivo de auto consumo;
  • Implementar outras medidas de biosseguran-ça para o rebanho como cerca de isolamento da granja de suínos, a pelo menos 10 metros das instalações e uso de um carregador/ descarregador de suínos, instalado na cerca limítrofe de isolamento da granja, para recebimento e venda de animais;
  • Na presença de sinais clínicos compatíveis com Doença de Aujeszky, avisar imediata-mente o veterinário oficial mais próximo.
 

Referências bibliográficas

ROMERO, C.H.; ROWE, C.A.; PROVENZANO, G.I.; FLORES, R.M.S.; BRENTANO, L. MARQUES, J.L.L. Distribuição e prevalência de anticorpos precipitantes para o vírus da doença de Aujeszky em plantéis de suínos no estado de Santa Catarina. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.4, p.123-127, 1984.
MORÉS, N.; ZANELLA, J.R.C Programa de erradicação da doença de Aujeszky no Estado de Santa Catarina. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2003. 50p. (Embrapa Suínos e Aves. Documentos, 81).
MÜLLER, T.; BÄTZA, H.-J.; SCHLÜLTER, H.; CONSATHS, F.J.;METTENLEITER, T.C. Eradication of Aujeszky´s disease in Germany. Journal of Veterinary Medicine,v.50, p.207-213, 2003.
PENSAERT, M. ; MORRISON, R.B. Chellenges of the final stages of AVD aradication program. Veterinary Research, v.31, p.141-145, 2000.
ZANELLA, J. R. C. Estimativa de impacto econômico anual da doença de Aujeszky para a suinocultura do Estado de Santa Catarina. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2002. 4p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado Técnico, 294).
ZANELLA, J.R.C., MORÉS, N. Controle da doença de Aujeszky. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2001. 8p. (Embrapa Suínos e Aves. Circular Técnica, 30).
 

Financiamento:

O projeto foi financiado pelo Fundo Estadual de desenvolvimento da suinocul-tura, pela Embrapa, pela Secretaria Estadual da Agricultura e pelas agroindústrias de suínos de Santa Catarina.
 

Agradecimentos:

Ao comitê técnico do programa de erradicação da DA em SC pelas orientações técnicas; aos veterinários da Cidasc, agroindús-trias e cooperativas suinícolas pelo apoio nas coletas de sangue, aplicação dos protocolos de erradicação do VDA e investigações epidemioló-gicas; aos produtores de suínos pela compreen-são e colaboração na aplicação dos protocolos de erradicação da DA em seus rebanhos suínos; ao Centro de diagnóstico em saúde animal (Cedisa) pelo apoio nos diagnósticos sorológico e virológico para o VDA.
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Autores:
Nelson Morés
Embrapa Suínos e Aves
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Kelvin França
10 de septiembre de 2013

Gostaria de saber como posso evitar esse tipo de doença, qual é a prevenção .

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