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Pneumovirose Frangos

Pneumovirose em Frangos de Corte – Um novo conceito em Proteção

Publicado: 7 de dezembro de 2006
Por: Méd. Vet. Alberto Bernardino. Gerente Técnico FDAH Brasil
Em meados dos anos 80, o problema conhecido como “síndrome da cabeça inchada” ganhou maior repercussão na avicultura brasileira. Na época, uma das regiões que mais sofreram foi a de Minas Gerais, onde o sistema, ainda hoje em prática de criação de frangos de corte em múltiplas idades, foi um dos fatores que contribuíram para a incidência e persistência do problema citado.

De lá para cá todas as regiões de importância no mercado avícola, não somente em produção de frangos de corte, mas também em criação de reprodutoras e poedeiras comerciais, já manifestaram positividade para o Pneumovírus Aviário (PVA).

O nome “síndrome” faz jus a essa enfermidade, pois muitas vezes se tem positividade no lote e este não manifesta sintomatologia clínica, o que vem a ocorrer quando da combinação entre a infecção pelo PVA + bactérias secundárias+ problemas de ambiência e até casos de imunossupressão potencializando o quadro.


Conhecendo o agente

O PVA foi primeiramente descrito no final dos anos 70 na África do Sul ocasionando problemas respiratórios em perus de todas as idades (Buys e Du Preez,1980). No Brasil, foi em 1992, que ocorreu o primeiro registro oficial através de trabalho e publicação (Arns & Hafez, 1992). Os perus são mais sensíveis ao agente e o quadro clínico é mais evidente; nos frangos de corte temos problemas respiratórios e em reprodutoras e poedeiras ocorre também queda de produção. A mortalidade é variável e depende dos outros fatores envolvidos no processo.

Dois sorotipos ( A e B) foram identificados dentro de um mesmo sorogrupo (Juhasz & Easton, 1994) e são os mais importantes economicamente em todo o mundo. Recentemente, nos Estados Unidos, um subtipo com características distintas foi descrito como C (Seal, 2000) e pouco tempo depois, na França um novo isolado de APV foi identificado como distinto dos outros três subtipos anteriores (Toquin et al, 2000).

Até então, no Brasil, só existe registro oficial do subtipo A, contudo, trabalhos estão sendo realizados para se confirmar a presença do subtipo B de campo, uma vez que este também está presente em vacinas comerciais.
A persistência do agente no ambiente pode variar de acordo com o tipo de exploração, onde em regiões de criação de lotes de frangos em múltiplas idades vai favorecer a permanência deste vírus entre lotes e entre granjas. Na ave, existem relatos de recuperação/identificação do vírus por RT-PCR até 6 semanas pós-infecção experimental em perus (Shin & Nagaraja, 2000); no campo, em frangos não é comum diagnósticos positivos em PCR ou mesmo isolamento após 2 ou 3 semanas da sintomatologia.

Manifestações mais comuns em Frangos de Corte

Após todos esses anos de trabalho no campo podemos diferenciar os quadros clínicos causados pelo APV em frangos da seguinte forma:
  1. Problemas respiratórios evidentes com incidência de “cabeça inchada” e mortalidade; condenação no abatedouro.

  2. Problemas respiratórios evidentes sem a incidência de “cabeça inchada” com mortalidade variável; condenação no abatedouro.

  3. Problema respiratório menos evidente e baixa mortalidade  mas com  condenação no abatedouro 
Em alguns casos onde temos boas condições de ambiência, sem efeito imunossupressor primário e bom manejo na granja, temos registro da ocorrência de lotes sorologicamente positivos e sem nenhuma manifestação clínica de problema respiratório ou mesmo de queda de desempenho zootécnico. Com isso, podemos concluir que além da presença do agente (APV) precisamos de condições que favoreçam sua manifestação em formas mais agressivas e com prejuízo econômico.

 Na figura 1 vemos a diferença entre a infecção isolada por APV ou com a participação secundária da E.coli.

Figura 1/ Diferença na infecção isolada de E.coli ou APV com a infecção por ambos (Gaudry, 1994)
Desafio/ AgenteE.coliPVAE.coli + PVA
Descarga Nasal0%45%95%
 00.71.8
Descarga Ocular45%30%65%
 0.50.51.1
0- sem secreção; 1- secreção serosa; 2- secreção mucosa; 3- secreção caseosa
Na figura 2 pode-se ver que quando os sintomas no lote (ao redor de 7 dias pós-infecção)  estão evidentes se torna mais difícil a recuperação do agente (PVA) dos vários tecidos e isso pode explicar o porquê de na maioria dos casos de campo, quando amostras são remetidas a laboratórios para isolamento do agente obtém-se resultados negativos para PVA. Diante dessa situação, recomenda-se uma sorologia em duplicata (1a coleta no momento dos sintomas e a 2a na saída do lote) ou só no final do lote vemos positividade para APV  e em lotes que não receberam vacina.

Figura 2 / Correlação entre sintomatologia e recuperação viral de diversos tecidos (Cook et al).

Pneumovirose em Frangos de Corte – Um novo conceito em Proteção - Image 1


O controle

Não existe tratamento específico. Durante o curso da doença o uso de quimioterápicos vai auxiliar no combate aos agentes secundários.

O uso de vacinas de APV em frangos de corte é mais recente. As primeiras vacinas testadas traziam alguns inconvenientes como serem muito invasivas e com isso causar uma reação indesejável que por si só iria potencializar a infecção secundária ; ou ainda a impossibilidade de serem utilizadas juntamente com a vacina de Bronquite que a maioria dos nossos incubatórios utiliza no primeiro dia, via spray.

Desta maneira ficava difícil de se contornar a situação e o que se fazia era tratar os secundários e cada vez mais, dentro das possibilidades do mercado, melhorar as condições de ambiência; limpeza e desinfecção e o vazio das instalações, tentando eliminar ou reduzir o risco de infecção tanto pelo agente (PVA) quanto por outros que poderiam afetar o sistema imune reduzindo a capacidade de defesa da ave. Quando a pressão econômica pede maior produção, levando a um maior número de aves/m2; menor intervalo entre lotes; aumento na diluição de vacina de Marek (menores títulos-pfus/dose) e redução nas doses de Gumboro, essa realidade, leva  a condição  necessária para a manifestação clínica do problema pelo PVA. As micotoxicoses também têm participação importante devido a seu carater imunossupressor, agravando o quadro clínico.  

Foi então que após vários anos de pesquisas surgiu uma vacina viva diferenciada que mesmo com títulos
maiores que as convencionais permitia o uso no primeiro dia de vida, no incubatório e INCLUSIVE administrada em conjunto com a vacina de Bronquite.

A Europa foi a primeira a testar esta nova vacina e os resultados positivos levaram à introdução em outros mercados. No Brasil, tal prática foi introduzida em 2004 e nesse período, mais de 200 milhões de frangos já foram vacinados revertendo o quadro com sucesso na maioria das vezes, ou em alguns casos mesmo não eliminando o problema totalmente, quando da análise de custo-benefício ficava mais econômica que o gasto com antibióticos+ perdas produtivas no lote. Um outro fator importante é que o Brasil como principal exportador de frangos de corte, busca alternativas para tornar seu produto mais seguro e “limpo” , nesse contexto, o uso preventivo da vacina é mais  saudável que o curativo através de um antibiótico que pode deixar resíduos.

Portanto temos nas nossas mãos uma nova opção de controle para o problema em frangos de corte onde até então era difícil de se atuar nesse agente primário e nos limitávamos ao controle dos secundários.

O procedimento para se avaliar a necessidade ou não do uso desta vacina se dá:
  1. O problema clínico ser uma realidade na granja;

  2. Aumento de condenação no abatedouro por aerossaculite

  3. Confirmar positividade para APV em coletas de soro pareadas
Esse vírus vacinal é pouco resistente às condições do meio ambiente e por ser mais atenuado que o das vacinas convencionais, a transmissão lateral é baixa (quase nula) o que permitiu o seu uso como teste em alguns lotes sem que houvesse problemas em lotes não vacinados por persistência e multiplicação do próprio vírus vacinal. Porém requer um manejo de vacinação bem adequado com spray de gota grossa bem distribuído nas aves.
O cálculo de custo benefício é feito comparando-se o investimento na vacinação do(s) lote(s) com o gasto de medicação  e diferença na mortalidade nos lotes não vacinados.
A experiência européia e agora a brasileira vem mostrar que a vacinação em frangos de corte essencialmente no primeiro dia de vida é viável economicamente  nos casos onde há a comprovação do APV  envolvido no processo respiratório e trouxe com o desenvolvimento de uma vacina diferenciada, a primeira a obter registro na Europa para uso no incubatório, a possibilidade de facilitar o manejo, vacinando no primeiro dia junto com Bronquite, sem que ocorram reações mais intensas e que possam trazer prejuízo ao lote.

Referências:
  • Arns,C.W., Hafez, H.M. Swollen head syndrom in poultry flocks in Brazil. In: Proc. 41st WPDC, Sacramento, CA. pp.81-83,1992.
  • Buys, S.B. and Du Prez, J.H. In: Turkeys 28, pp. 36-46
  • Juhasz, K., Easton, A J.; Extensive sequence variation in the attachment (G) protein gene of avian pneumovirus: Evidence of two distinct subtypes. In: Journal of General Virology 75, pp 2873-2880, 1994
  • Manual Técnico Poulvac TRT- Fort Dodge Saúde Animal Ltda, 2004.
  • Seal, B.S.; Sellers, H.S.; Meinersmann, R.J. Fusion protein predicted amino acid sequence of the fiest US avian pneumovirus isolate and lack of heterogeneicity among other US isolates. In: Vírus Research 66, pp 139-147, 2000
  • Shin, H.J. and K.V. Nagaraja. Specific Detection of Avian Pneumovirus US isolates by RT-PCR. In: Arch. Virology 145, pp 1239-1246, 2000.
  • Toquin, D.M.; Bayon-Auyboyer, M.H.; Senne, D.A; Eterradossi, N. Lack of antigenic relationship between French and recent North American non-A/ non-B turkey rhinotrachieitis viruses. In: Avian Diseases 44, pp: 977-982, 2000.
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henrique marcos borochovitz
henrique marcos borochovitz
9 de enero de 2007
na minha opniao: acho que SHS e um problema de manejo por excelence. granja que criam aves de corte de uma idade (nao mais de 7 dias de diferenca)nao sofrem desta doenca. so ocorre quando temm problemas de supressao imunitaria. Dr. Henrique Marcos Borochovitz
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