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A produção animal e seu impacto sobre o meio ambiente

Publicado: 10 de dezembro de 2013
Por: Jamil Monte Braz, Zootecnista, M.Sc.
De acordo com a FAO (2010), a demanda mundial por alimentos, principalmente de origem animal, é muito grande e a indústria e toda sua cadeia de produção de alimentos ainda está longe de suprir as necessidades das populações carentes, especialmente do 3° mundo.
No caso da produção animal, muitas questões e problemas antes ignorados e inexistentes passam agora a fazer parte dos principais temas relacionados à produção dos alimentos de origem animal. A falta de um controle efetivo com relação ao manejo das diversas etapas da cadeia produtiva somada à necessidade de se obter alta produtividade tem sido responsável pelo surgimento de novos problemas de ordem sanitária, ou pelo retorno de enfermidades animais outrora controladas, como o caso do mal da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina), zoonoses como a leptospirose bovina, as tuberculoses bovina, equina e suína, influenza aviária e febre aftosa.
O manejo intensivo, tão utilizado por grandes unidades produtoras, granjas e fazendas de grande porte, leva os animais a um quadro de estresse que se traduz em fragilidade imunológica, com maior disseminação de doenças. Trazendo a necessidade da utilização de antibióticos como promotores de crescimento, que junto com outras substâncias, como pesticidas e fertilizantes da agricultura, que ficam disponíveis na natureza contaminando o meio ambiente, a comunidade, águas, solos, ar, alterando o sistema ecológico.
Nesse contexto, a necessidade de um sistema produtivo adequado se une à questão da produção animal ecologicamente correta, com a implementação do conceito de sustentabilidade nas unidades produtoras (fazendas, granjas), para que além do fornecimento de um produto final de alta qualidade, sem resíduos químicos (resíduos de antibióticos) e biológicos (microorganismos patogênicos e suas toxinas) para o mercado consumidor, a manutenção de um meio ambiente equilibrado garanta o fornecimento desse bom produto no futuro e a manutenção das boas condições dos recursos naturais locais.
A exigência do mercado consumidor, principalmente europeu, mas também do mercado interno quanto ao produto de origem animal e aos sistemas de produção geradores desse produto, levando em conta também sua influência sobre o meio ambiente tem incentivado diversos criadores a adotarem técnicas compatíveis com esse mercado. Hoje, um número considerável dos produtores brasileiros já fornece ao mercado produtos como o boi verde, a galinha caipira com carne e ovo orgânico, o vitelo e o boi orgânico, leite orgânico e diversos produtos de origem animal, certificados e credenciados por entidades especializadas em orientar e fiscalizar tanto o produto final (carne, ovos, leite e derivados), como toda a cadeia produtiva geradora desses produtos através de tecnologias como a rastreabilidade, por exemplo.
Os principais problemas com relação ao meio ambiente, causados pelas criações animais, dizem respeito principalmente à qualidade da água, mas também ao odor, barulho, poeira, presença de patógenos e de resíduos de antibióticos e outras substâncias no meio ambiente e nos alimentos. A perda de matéria orgânica no solo, predominantemente como resultado da erosão, é uma das principais preocupações.
Entre os patógenos veiculados, destaca-se a Salmonella, existindo mais de 200 doenças de etiologia conhecida e com sintomatologia variada, que podem ser transmitidas através dos alimentos. Apesar de, na maioria das vezes, não se manifestarem clinicamente nos animais alojados nas granjas, passam a ser veiculados, principalmente pelo trato gastrintestinal, possibilitando a contaminação das carcaças durante o abate e o processamento industrial.
A legislação brasileira, no que diz respeito ao meio ambiente, é considerada uma das mais completas do mundo, o que não se vê ainda é, além de uma fiscalização efetiva, uma legislação específica, como em alguns países da Europa, por exemplo, para controlar e orientar a produção e utilização dos dejetos animais, visando aliviar o impacto da produção animal no meio ambiente. Zootecnia Jamil Monte Braz Zootecnista, M.Sc. 
A medida que se aumenta a produção de alimentos de origem animal, já que a população cresce consideravelmente a nível mundial, naturalmente se aumenta o impacto sobre o meio ambiente. Sendo assim, esforços devem ser concentrados visando diminuir cada vez mais o impacto sobre a natureza, em sistemas sustentáveis de produção animal os procedimentos para promover boas condições ao meio ambiente têm sido priorizados.
De modo geral, podemos dividir os poluentes que mais causam danos aos ecossistemas em dois grandes grupos. O primeiro inclui substâncias presentes nos efluentes de grandes áreas urbanas, principalmente associadas à disposição imprópria de resíduos sólidos (lixo) e ao tratamento inadequado ou inexistente de esgoto sanitário.
O segundo grupo, composto pelos poluentes de origem industrial, inclui substâncias tóxicas, como metais pesados, gases de efeito estufa e efluentes da agricultura mecanizada. Ao contrário dos contaminantes do primeiro grupo, cujo efeito é geralmente local ou no máximo regional, esses têm o poder de afetar o ambiente em escala global.
O excesso de nutrientes da agropecuária do meio-oeste norte americano, drenado para o oceano pelo rio Mississipi, é responsável por extensas áreas de anoxia no golfo do México. A emissão de gases de efeito estufa (principalmente CO2) e de metais pesados para a atmosfera, origina-se em grande parte na geração de energia para os EUA e para países da comunidade européia, que consomem cerca de 70% dos combustíveis fósseis do planeta. Aproximadamente dois terços da produção de cereais são utilizados na produção animal nos países mais desenvolvidos, em sistemas intensivos e semi-intensivos.
As grandes fazendas e granjas produzem uma quantidade muito grande de dejetos, e a especialização tem criado fazendas maiores e áreas concentradas de produção. Preocupações com o meio ambiente são divididas em três principais categorias: Solo – acúmulo de nutrientes, Água – eutroficação e Ar – aquecimento global e odores. Na agricultura observamos o surgimento de pragas, doenças e esgotamento dos solos, comprometendo as características químicas, físicas e biológicas de solos e água pelo uso indiscriminado de fertilizantes e agrotóxico.
Os ambientes aquáticos, como rios, estuários e áreas costeiras, são os mais afetados. O excesso de matéria orgânica e de nutrientes, particularmente nitrogênio (N2) e fósforo (P), promovem a proliferação de algas e plâncton em águas naturais. O resultado são ambientes anóxicos e subóxidos, ou seja, com níveis insuficientes de oxigênio para o pleno desenvolvimento da vida aquática.
Além do odor, manejo ou estocagem inadequada de dejetos podem provocar acúmulo de minerais como fósforo (P), cobre (Cu), zinco (Zn) e de nitrato no solo, que podem poluir águas subterrâneas e superficiais. Um excesso de aplicação de dejetos animais em lavoura pode levar a um acúmulo de metais pesados no solo, com conseqüências para o crescimento das plantas e para a saúde humana e animal, comprometendo também a biota do solo. Nas áreas próximas de unidades de produção animal, a qualidade da água e do ar tem importância considerável, devido à facilidade de locomoção das partículas, substâncias e microorganismos nesses meios.
Grandes avanços têm sido observados nas últimas décadas com relação ao controle do nível de nutrientes nos dejetos animais através da nutrição, melhorando a eficiência de utilização dos nutrientes, com a elaboração de dietas ajustadas às diversas idades e fases de produção, além do beneficiamento e melhoria da qualidade dos alimentos oferecidos, maior consciência com relação ao armazenamento dos ingredientes e rações, e utilização de ingredientes alternativos. O avanço também tem vindo de outras áreas do conhecimento e pesquisa, incluindo além da nutrição, a genética, fisiologia, controle de doenças e manejo, diminuindo os níveis de nutrientes e o volume destes dejetos, melhorando cada vez mais o manejo dos dejetos animais e o controle do odor.
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Jamil Montebraz
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Paulo Martins
Biocamp
17 de diciembre de 2013

17/12/2013 | Muito Interessante sua revisão. Ressalto apenas que a produção de carnes por vias alternativas (caipiras, orgânicas, biológicas), ao contrário do que a maioria do público leigo pensa, pode deixar maiores ‘pegadas de carbono’. Exemplo: um frango de corte caipira leva 90 dias para atingir um peso de 2,7 kg com uma conversão alimentar (CA) média de 2,15 e um gasto total de ração de 5,8 kg. Por outro lado, um frango industrial leva apenas 42 dias de idade para atingir os mesmos 2,7 kg, com CA média de 1,7 e consumo total de 4,6 kg de ração. Ou seja o frango caipira gastou mais 1,2 kg de ração por cabeça, além de consumir 48 dias a mais de água para sua manutenção neste período. Sob o ponto de vista de ‘pegada de carbono’ ele foi pior para a natureza. Como você afirma em seu texto as novas tecnologias virão ao encontro das necessidades de redução do impacto ambiental. Parabéns pelo texto.

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Jamil Montebraz
17 de diciembre de 2013

Obrigado, Paulo, muito importante sua consideração, esclarecendo e dando mais oportunidade para enriquecermos o assunto. Vale a pena lembrar para o público em geral que vai ser 'a pegada de carbono do sistema produtivo' que vai definir o impacto total no meio ambiente, medido pelo impacto de todo o plantel. O plantel industrial é, de forma geral, muito maior que um plantel da ave caipira ou orgânica. Aves caipiras não vão conseguir o mesmo desempenho produtivo, medido pelas taxas de ganho de peso (GP), conversão alimentar (CA) e consumo de ração (CR), de aves industrias em sistemas industriais intensivos, sendo a maior produtividade do sistema como um todo, que engloba produção vegetal em conjunto, o foco produtivo dos sistemas alternativos (caipira, agroecológico ou orgânico). O frango caipira ou orgânico é criado na grande maioria das vezes para aptidão dupla, ovos e carne, em sistemas alternativos, em que as aves se alimentam não só de ração, mas de sobras de horta, insetos, capim, sendo aconselhável a formação de piquetes com forrageiras, com rodízio de pelo menos dois piquetes, de preferência com leguminosas para aumentar a oferta de proteína inclusive. Nesse contexto, o consumo de ração e de água são diminuídos pela ingestão de muita massa verde e de água não só fornecida pelo produtor mas também pela água depositada pela chuva nas plantas e no solo.

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